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MUNDO
Apresentamos um gráfico que ilustra a recuperação de alguns dos principais índices accionistas norte-americanos. Como se pode observar no gráfico, os índices S&P 400 e Nasdaq, praticamente, já recuperaram todas as suas perdas, após, a grande crise financeira. Miguel Amaral
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O modelo de crescimento económico chinês é essencialmente baseado nas exportações, a competitividade das exportações chinesas depende da taxa de câmbio, uma taxa artificialmente manipulada no sentido da desvalorização. O que implica uma permanente intervenção no mercado de divisas para conter a apreciação da sua moeda, esta intervenção no mercado provoca um excesso de liquidez que pode condicionar a eficácia da política monetária, nomeadamente, no controlo do crescimento dos preços.
Um cenário de crescente inflação na China é preocupante porque irá desgastar a competitividade das exportações chinesas e pode por em causa o seu próprio modelo de crescimento e a recuperação mundial. Por isso, foi com alguma apreensão que li os dados do relatório do Tesouro Norte-americano ao Congresso, apesar do renminbi ter apreciado somente 3,7% em relação ao dólar, como consequência da liberalização parcial da moeda, a apreciação real do renminbi foi superior à 10% anual devido à inflação. A inflação chinesa situou-se nos 4,6% em Dezembro, em termos mensais está a crescer ao ritmo de 0,4%, enquanto o preço das matérias-primas e dos produtos manufacturados cresceram a 1,5%, e o preço dos alimentos cresceram a 10% e a pressão sobre o salário mínimo foi de 20%. Portanto, a economia chinesa depara-se com importantes tensões nos preços, e sem muita margem para uma política monetária conservadora, pelo que, seria expectável um modelo económico mais baseado na procura interna do que na procura externa, nomeadamente, mais centrado no consumo interno, a questão, será saber se está mudança no modelo económico será possível no actual modelo político chinês? Miguel Amaral O Oriente Médio está em plena revolução. Primeiro a Tunísia, passando por passeatas em alguns países do Norte da África e culminando no Egito, um dos mais importantes, senão o mais importante país do mundo árabe.
Uma das razões do sucesso dos opositores no Egito está no acesso cada vez mais fácil e disseminado à informação e da capacidade de mobilização das redes sociais. Entretanto, o foco deste artigo é outro. Estará o Egito apto para a democracia? Esta pergunta me vem à mente quando vejo as principais potências mundiais e Israel se omitindo na democratização do Egito. Falam em transição de poder, mais liberdade ao povo egípcio, mas ainda não vi nenhuma manifestação contundente sobre eleições livres, democráticas e justas para o país. Pelo contrário, o que vejo são manifestações dizendo que o Egito não estaria pronto para a democracia, como expressou Dan Gillerman, embaixador de Israel na ONU entre 2002 e 2008. Isto nos faz refletir e questionar: o ocidente está pronto para uma democracia no mundo árabe? Por mais estranha e paradoxal que a pergunta seja, afinal, os Estados Unidos, quando da invasão ao Iraque, se propuseram a levar democracia ao povo árabe, para substituir os ditadores tirânicos por representantes eleitos pelo povo. Mas, até que ponto isto é verdade? Para compreender o problema, vamos analisar três fatores recentes em ordem cronológica: Faixa de Gaza, Irã e Egito. Depois de amplo debate e inédito acordo, eleições livres na Palestina, compreendendo Cisjordânia e Faixa de Gaza, segundo diversas organizações internacionais, eleições legítimas e sem fraudes que pudessem comprometer seu resultado final. Na Cisjordânia, tudo ocorreu como planejado, com Mahmoud Abbas sendo vencedor. Porém, houve um problema: na Faixa de Gaza outro candidato venceu, o partido Hammas, Organização terrorista para uns e movimento de resistência para outros. O que foi feito? Procurou-se saber a razão pela qual o povo palestino elegeu um movimento de resistência armado e não um partido moderado para o poder? Procurou-se uma via para colocar este movimento legítimo na mesa de debates, por mais difícil que possa ser? Não, simplesmente o resultado não foi reconhecido e até hoje a região sofre um desumano bloqueio econômico por parte de Israel. O que o mundo árabe pode concluir com isto? Simples: querem que seja democrático, desde que eleja um presidente pró-ocidente. Isto lembra a máxima de Henry Ford na qual poder-se-ia comprar qualquer cor de Ford, desde que fosse preto. Será isto o melhor para a região ou será a volta da dominação ocidental disfarçada de democracia? Segunda eleição, Irã, 2009. Houve a suspeita de que o atual presidente Mahmoud Ahmadinejad teria sido eleito de maneira fraudulenta, com pesados protestos no país e, infelizmente, um alto número de mortos e feridos. A comunidade internacional, em peso, criticou as eleições e pediu novos pleitos. Neste caso, pode-se concluir que o Irã está pronto para a democracia, por isso, novas eleições seriam fundamentais. Entretanto, eleições fraudulentas também sempre existiram no Egito e em outros países árabes aliados, e a comunidade internacional nunca exigiu novas eleições. Será que o fato de um ser opositor aos Estados Unidos, e outro ser aliado, influenciou nesta decisão? Finalmente, Egito, 2011. Ditador governando o país por três décadas, povo na rua para destituí-lo do poder. O mundo, aparentemente, está com receio de tratar do tema de eleições livres, falando de uma transição de poder no seu sentido mais amplo. O pensamento por trás disto traz um argumento interessante: e se um movimento radical “tomar” o poder pelas eleições livres? Será que vale a pena um governo democrático contra os interesses ocidentais ao invés de um governo ditatorial amigo? E como ficará o Egito se a Irmandade Muçulmana conseguir chegar ao poder? O Estado seria governado por um movimento radical e terrorista e o Canal de Suez seria fechado e Israel bombardeado? Isto tudo me faz refletir sobre algumas perguntas: A Irmandade Muçulmana é realmente um movimento terrorista e radical? Haveria outros atores políticos moderados no Egito? O que o povo egípcio quer? Será que seria capaz de decidir o seu futuro? A sociedade egípcia, uma das mais progressistas do mundo árabe, vai colocar no poder um novo Taliban? Adoraria a chegada do dia em que o povo dos países árabes pudesse definir seu destino, como, a duras penas, conseguimos hoje no Brasil. Porém, tenho receio de que este dia ainda demore um bom tempo para chegar. Jorge Eduardo Scarpin O Continente africano está a ser varrido por convulsões políticas e sociais como há muito não se via.
Tudo evidencia que parece ter começado com a crise na Cote d’ Ivoire e que se estendeu à Tunísia e daqui para quase todo o Norte de África – parece que a Líbia é ainda o único “estável” – com ligeira passagem pela península arábica, mais concretamente pelo Iémen, e com retorno a África, ao Gabão. De facto, tudo parece indicar que na potência do cacau terá começado esta crise social e política como se um “La Niña” político se tratasse. Parece, mas, sê-lo-á? Creio que, na verdade, tudo começou na eterna política anglófona de “não se entendem que se separem” cuja a última consequência parece ser o Sudão onde se efectuou por pressão anglo-americana e beneplácito da ONU um referendo para a divisão do Sudão entre um Norte, islâmico, pobre – ou maioritariamente pobre – e onde impera a Sharia, e um Sul, cristão e animista, rico – demasiadamente rico em hidrocarbonetos – e onde subsiste uma continuada revolta social que poderá ser – será?! – eventualmente minorada com a independência. De facto o que se passa no Egipto, mais que uma revolta social e política contra a autocracia, a corrupção e o desemprego, na linha do que aconteceu na Tunísia com a chamada “Revolução do Jasmim”, é também uma crise religiosa entre radicais muçulmanos e cristãos coptas e que teve o seu início na noite de ano novo em Alexandria. Uma natural sequência do referendo sudanês que irá dividir, como já atrás referi, o país em duas entidades político-religiosas diferentes e pouco dadas à coexistência! E, claramente, os Irmãos Muçulmanos – ou Irmandade Islâmica, como também é reconhecida – já está a se aproveitar, dada a sua forte implantação social. E aquele efeito político-religioso acabou por degenerar num ensaio político-social de proporções inimagináveis e com contestações em outros países árabes, nomeadamente, nos já citados, com particular destaque para Marrocos, muito próximo da entrada para a chamada Europa livre, e do Gabão pela proximidade de outros países onde a autocracia já se conta pela vintena de anos de poder ou pelo facto de haver, na zona, tendências separatistas. E, segundo algumas “bocas” já há inúmeros telemóveis com acesso à Internet que podem acender indesejáveis rastilhos sociais e políticos de insondáveis e imponderáveis amplitudes… Há, claramente, um “La Niña” político-social que as forças do poder não devem, de maneira alguma, descuidar como uma avestruz… Eugénio Costa Almeida Para terminar esta sequência, apresentamos um gráfico que ilustra a tendência de longo-prazo do ouro. Podemos notar, que a partir do início de 2001, o ouro iniciou um forte bull market, notamos que a tendência se reforçou em 2005 e 2008 (crise financeira). No entanto, depois o ouro quebrou a sua resistência, desacelerou e esta a testar o seu suporte intermédio de há 2 anos pela oitava vez. Será que estamos perante uma inversão de clima económico e a recuperar a confiança na economia? Miguel Amaral
O gráfico apresenta a evolução do índice S&P 400 (mid-cap stocks), a partir de 2009 assistimos a uma tendência altista muito pronunciada que culmina com mais um máximo histórico, possivelmente, esta tendência resulta da percepção de uma maior confiança no crescimento da economia Norte-americana, especialmente, para o segmento empresarial intermédio. Mas será que este bom sentimento se vai confirmar? Miguel Amaral
O gráfico ilustra a evolução dos preços da gasolina, enquanto o crude negoceia entre US$ 90 e US$ 100 o barril. Esta pressão nos preços é o resultado das contínuas tensões geopolíticas nos países produtores e o respectivo esforço em satisfazer a procura. O aumento do preço do crude foi acompanhado com o aumento do preço da gasolina. Nos Estados Unidos verificamos que o preço por galão de gasolina, ajustado pela inflação, supera os US$ 3, um patamar que foi poucas vezes atingido nos últimos 30 anos. Será que o preço do barril de crude vai quebrar o limite dos US$ 100? Qual será o limite? Miguel Amaral
Na reunião do G-20, em que a nova Presidenta eleita do Brasil, Dilma, será apresentada por Lula à comunidade internacional, China e os Estados Unidos necessitam de acordo sobre o estabelecimento de metas para a redução dos desequilíbrios comerciais. Eles querem mudar as discussões da "questão superficial" das taxas de câmbio nominais para "discussões sobre a substância do reequilíbrio do comércio mundial".
Nesse sentido, a China adotaria metas numéricas para redução de seu superávit comercial. Ela vem resistindo firmemente às pressões dos Estados Unidos por valorização mais rápida de sua moeda. Essa é a disputa política e econômica que mais vem despertando temores da “guerra cambial” mundial. Há possibilidade de apoio na China à proposta dos EUA de estabelecer limites aos superávits e déficits em conta corrente de cerca de 4% do PIB. Entretanto, o governo da Índia se mostra menos entusiasmado. Acha que o G-20 precisa adotar "fórmula baseada em soluções específicas para cada país" e evitar a "camisa de força" de metas numéricas gerais. Ele alerta que qualquer diretriz política ampla para nivelar déficits e superávits poderá ameaçar o funcionamento "normal" da economia mundial. A Índia não pretende impor limites aos fluxos de capital para seu país, apesar das preocupações com o fato de as políticas monetárias nas economias desenvolvidas estarem direcionando recursos voláteis para os mercados emergentes. Os planejadores econômicos chineses querem reduzir o superávit para 4% do PIB nos próximos três a cinco anos. O superávit externo da China já está diminuindo por causa do aumento dos salários, do consumo em alta e da realocação de indústrias para províncias do interior do país. O Brasil também possui contencioso com a China na área comercial e cambial. O governo brasileiro insiste na necessidade de diversificação do comércio. As compras chinesas são compostas hoje de 33% de soja, 30% de minério de ferro e 10% de petróleo, comparados a 95% de manufaturados chineses exportados para o Brasil. A resposta chinesa tem sido de que a estrutura do comércio depende das características econômicas dos dois lados. A China sempre sugere ao Brasil promover mais seus produtos no mercado chinês. Por sua vez, Pequim continua cobrando que o Brasil cumpra o compromisso assumido em 2004, de dar o status de economia de mercado à China. Mas isso está longe de acontecer, levando-se em conta a política cambial chinesa administrada que dá vantagem enorme a suas exportações. Em todo caso, a China terá automaticamente, partir de 2016, o status de economia de mercado reconhecido pelos parceiros, pelos termos de sua adesão na Organização Mundial do Comércio (OMC). O Brasil não poderá mais aplicar medidas antidumping, baseadas no preço de terceiro país. O problema é que hoje sequer sobretaxas antidumping freiam os produtos chineses, diante de sua competitividade impulsionada pela moeda desvalorizada. Os chineses continuam a tomar mercado do Brasil nos mercados tradicionais da América Latina. Bancos internacionais já esperam novas medidas de restrição ao capital externo no Brasil para frear a apreciação do real, devido ao afrouxamento da política monetária dos Estados Unidos. O aumento do IOF sobre o portfólio de ações é visto como alvo prioritário. Entretanto, isso vai causar danos no mercado local de capitais, freando a emissão de IPO ao reduzir a demanda de investidores estrangeiros. Há possibilidade de outras medidas complementares como: intervenção do Banco Central do Brasil no mercado de derivativos com mais leilões de swap reverso; não remuneração de contas de estrangeiros, como forma de reduzir a capacidade desses investidores de vender dólares na BM&F; regulação prudencial sobre posição de derivativos de bancos para limitar a arbitragem entre mercados futuro e spot. O IOF, que já foi elevado de 2% para 4%, e depois 6%, poderia ser aumentado também para o capital que entra para o mercado de ações. Há ainda a possibilidade de reintrodução do Imposto de Renda de 15% sobre os investimentos estrangeiros em títulos de divida do governo. Se é claro que o aumento da liquidez global vai levar à escalada de medidas para frear o fluxo de capital, também parece certo que a apreciação da moeda nacional só será verdadeiramente moderada com políticas que incluam ajustamento fiscal. Intervenções do Fundo Soberano, com ativos apenas de US$ 10 bilhões, dificilmente atenuarão a apreciação do real, a menos que tenha mais capitalização. Com as intervenções do Banco Central, com compra líquida de moedas estrangeiras no mercado spot, as reservas internacionais aumentaram para US$ 282 bilhões, representando 18% do Produto Interno Bruto ou 12 meses de importações. No entanto, a disposição da autoridade monetária em intervir no mercado declinou por duas razões: o benefício marginal por mais acumulação de reservas diminuiu e o custo da esterilização aumentou à medida que o diferencial de taxa de juros cresceu. Dilma Rousseff e Lula vão ao encontro de cúpula do G20, provavelmente, com a proposta de coordenação mundial de políticas econômicas a fim de evitar danos como os provocados por EUA e China. A proposta brasileira será: 1) os governos americano e europeus que gastarem mais através de estímulo fiscal e fazerem controle monetário; 2) a China, a Alemanha, o Japão e os países do Sudeste Asiático reduzirem os superavit comerciais (exportações menos importações), incentivando a demanda doméstica no mercado de consumo de cada um deles. É proposta racional, teoricamente, mas pouco palatável, politicamente. A geopolítica internacional tem razões que a própria razão desconhece... Fernando Nogueira da Costa A União Européia obteve o PIB por Paridade de Poder de Compra de US$ 14,43 trilhões, em 2009, queda de 4% em relação ao alcançado no ano anterior (US$ 15,04 trilhões), devido à crise mundial. Mesmo assim, esse bloco regional manteve-se como o maior gerador de renda no mundo, acima do PIB PPC dos Estados Unidos de US$ 14,12 trilhões em 2009. A renda per capita deste foi de US$ 46.000, enquanto a da União Européia foi de US$ 31.900. A força de trabalho desta alcança 225,5 trabalhadores, superando a norte-americana de 154,2 milhões. O desemprego médio na Europa foi de 9% da força de trabalho.
A União Européia acumulou exportação de US$ 1,952 trilhão em 2007. Embora a China tenha superado a Alemanha com o país com maior exportação em 2009 (US$ 1,204 trilhão contra US$ 1,145 trilhão), a pauta de exportação desta (19% em veículos automotores, 14% em máquinas e equipamentos, 13% em produtos químicos e 12% em produtos elétricos e eletrônicos) contém muito maior valor agregado. Quase 2/3 de suas exportações se dividem entre Zona do Euro com 43% e Europa fora da Zona do Euro com 20%. Na realidade, a soma de consumidores, devido à formação do Mercado Comum Europeu, propiciou ampliação significativa do “mercado interno” da Alemanha, que se compunha de apenas 76,3 milhões de consumidores em 2004. Por exemplo, somando mais os franceses (53,1 milhões), italianos (52,8 milhões) e ingleses (50,4 milhões), esses quatro países europeus no ranking dos dez maiores mercados consumidores da economia mundial alcançam 232,6 milhões, quase a dimensão absoluta dos dois maiores naquele ano: Estados Unidos com 242,5 milhões e China com 239,8 milhões. A dedução, portanto, é que o Mercado Comum Europeu é o maior mercado consumidor do mundo, fundamental para o comércio exterior intra-firmas européias. O conhecimento de toda essa estatística é relevante para se avaliar a importância econômica de se manter a União Européia em momento de crise que ameaça sua ruptura em zonas do Euro do A (Alemanha) e do B (periferia européia). Como se chegou a este estado de desunião?! Sintetizando os movimentos recentes da crise mundial, os Estados Unidos anunciaram a monetização de cerca de US$ 600 bilhões de sua dívida pública. Em outras palavras, depois de trocar os títulos de dívida privada “podres” por títulos de dívida soberana, desejados por todos os países do mundo como “porto seguro” de suas reservas cambiais, o governo norte-americano resolveu trocá-los por moeda hoje não tão desejada: o dólar. Agravou-se a “guerra cambial”. A depreciação relativa do dólar face ao euro retiraria mais ainda a competitividade de produtos dos países europeus periféricos, precificados (e encarecidos) em euros. De janeiro a setembro do ano corrente, comparado com o mesmo período do ano passado, a exportação da União Européia obteve a menor taxa de crescimento entre as principais regiões e países, apenas 8% face a 33% da brasileira e 32% da chinesa. A média mundial foi de 18%. O problema da União Européia é que seus países, ao se integrarem em mercado interno comum, abriram as fronteiras cambiais entre si. Na prática, abdicaram da possibilidade de executarem, individualmente, política cambial e política monetária defensiva contra o “ataque” norte-americano. Pior, crises de crédito substituíram crises cambiais. Como descreveu Martin Wolf, editor e principal comentarista econômico do Financial Times, as discrepâncias nos custos relativos provocam desequilíbrios comerciais estruturais, ou seja, vastos déficits comerciais das economias menos competitivas. Por exemplo, em 2009, Portugal exportou US$ 44,5 bilhões e importou US$ 68,9 bilhões, Grécia, US$ 21,3 bilhões e US$ 64,2 bilhões, Espanha US$ 224 bilhões e US$ 287 bilhões, respectivamente. Não foi o caso da Irlanda. Mas esta, como aquelas outras economias, teve, inicialmente, gasto privado e, depois, público, ambos superiores à geração de renda, portanto, financiados a partir do exterior. Wolf se utiliza da “abordagem da absorção” em sua análise dos balanços de pagamentos desses países. A concessão de empréstimo desapareceu. Se ela se deu via setor bancário, como na Irlanda ou na Espanha, primeiro ocorreu crise financeira. Se ocorreu por intermédio do setor público, como na Grécia, a crise aconteceu logo nas finanças do Estado. Por que foram tomados esses empréstimos? O dinheiro estava farto e barato e a demanda dos principais destinos de suas exportações (vizinhos europeus) estava fraca. A baixa taxa de juros provocou bolhas de preços de ativos e expansões de crédito nas economias periféricas. Estas, por sua vez, estimularam forte crescimento na construção civil. Até que as bolhas explodiram e os títulos securitizados “micaram”. À medida que o sistema financeiro implode, a economia desmorona e as finanças públicas se deterioram. Com a pirâmide etária européia, a crise estrutural da Previdência Social é usada como argumento para corte de direitos sociais. A reação grevista e os choques nas ruas tornaram-se inevitáveis. Enquanto as instituições financeiras foram salvas da primeira onda da crise, os conseqüentes déficits fiscais expandiram as dívidas soberanas e abriram a segunda fase de instabilidade. Pode evoluir para nova crise bancária na zona do euro. Os bancos europeus têm US$ 1 trilhão em financiamentos aos países hoje cobrados pelos riscos dos investidores: Portugal, Irlanda, Itália, Grécia, e Espanha. Outro problema é a quantidade da dívida soberana com marcação a mercado em queda nas tesourarias dos bancos dos países em dificuldades. Se os governos deixarem de pagar seus débitos, vários bancos ruirão, e não apenas pela fuga dos investidores dos títulos soberanos. Os bancos espanhóis, adicionalmente, têm exposição aberta de US$ 400 bilhões com a crise imobiliária. Em união monetária, a auto-regulação cambial não existe. Em lugar disso, há crises fiscais combinadas com as de crédito e competitividade. A solução para esta perda de competitividade seria forte queda nos preços. Mas isso agravaria a crise de crédito, pois provocaria a deflação de dívidas, tal como houve na Irlanda. A moratória nacional abala a confiança no Estado. Crise bancária é quase tão destrutiva. Os países europeus eram felizes com a crise cambial isolada, não sabiam e agora estão descobrindo! Assim, a grande questão não é determinar se a zona do euro é capaz de evitar a onda de crises fiscais e financeiras combinadas, mas sim se haverá a desunião européia. Fernando Nogueira da Costa O Sri Lanka, antigamente conhecido como Ceilão, é uma ilha asiática, situada ao lado da Índia. Possui uma população de 21 milhões de habitantes e um PIB per capital de 4 mil dólares. Até recentemente, o país convivia com uma guerra civil brutal.
Dos 20 milhões de habitantes, dez mil são contadores certificados. Isto significa um contador para cada dois mil habitantes. Para se ter uma idéia, no Brasil seriam 400 mil contabilistas certificados ou seja um para cada 450 habitantes. Para chegar a mesma proporção do Brasil, o Sri Lanka deveria ter quatro vezes mais contadores. Esta é uma meta razoável a médio prazo. Atualmente estão matriculados 30 mil alunos, segundo o Sri Lanka Institute of Chartered Accountants. Agora, uma surpresa: os contadores do Sri Lanka estão fazendo a contabilidade de grandes empresas mundiais, como o HSBC e a Aviva. Além da folha de pagamento, os contadores do Sri Lanka estão fazendo trabalhos mais avançados de contabilidade como precificando derivativos. Para fazer este trabalho, a remuneração média anual é de 5.900 dólares, segundo o Chartered Institute of Management Accountants. Transformado em reais, isto significa cerca de dez mil reais por ano ou 835 reais por mês. Quando se compara com os Estados Unidos, uma economia de 90%. Quando a comparação é com o profissional brasileiro, o que se paga para um contador do Sri Lanka corresponde a 35% da remuneração do contador brasileiro. César Tibúrcio |