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MUNDO
Ontem na reunião de cúpula dos países da União Européia foi aprovado um novo pacto fiscal que prevê sanções quase automáticas aos países que superarem o limite de 3% do déficit público anual. Se o limite for excedido durante um momento de recessão, o déficit estrutural, ou seja, aquele que prevaleceria caso a economia estivesse operando com pleno-emprego, não pode superar 0,5% do PIB. Foi estabelecido um prazo de cinco anos para os países da União Européia (com excessão do Reino Unido e da República Theca, os quais não assinaram o acordo) incorporarem esse dispositivo em suas constituições.
A lógica por trás da adoção desse novo pacto fiscal é que o mesmo irá sinalizar de forma críval para os mercados o compromisso dos governos dos países europeus com a estabilização – e eventual redução – do endividamento do setor público com respeito ao PIB, o que deveria levar – segundo a lógica desse argumento – ao aumento da confiança dos investidores, produzindo assim uma queda pronunciada das taxas de juros sobre os bonos soberanos dos países da área do Euro. O problema com esse argumento é que o mesmo desconsidera duas questões fundamentais. A primeira é que o elevado nível de endividamento do setor privado da União Européia (Bancos e Famílias) pôs em marcha um processo de desalavancagem de famílias e bancos, o qual gerou uma forte contração dos gastos de investimento e de consumo, o qual foi o responsável pela estagnação do nível de atividade econômica nos países europeus. É a estagnação do nível de atividade econômica resultante desse processo de desalavancagem que produziu a enorme deterioração fiscal dos países da área do Euro após a crise financeira de 2007/08. O pacote fiscal aprovado ontem transforma o efeito (a deterioração fiscal) em causa da crise. A segunda questão está relacionada com os efeitos do pacote fiscal. Se todos os países da União Européia coordenarem esforços no sentido de uma consolidação fiscal neste momento, o resultado será uma queda generalizada da demanda doméstica na Europa e, por conseguinte, um aprofundamento do quadro recessivo. Isso irá reduzir ainda mais as receitas tributárias dos países europeus fazendo com que, no final do processo, o déficit fiscal seja maior, ao invés de menor, do que era no início. Provavelmente os mercados irão se antecipar a esses desdobramentos, exigindo prêmios de risco ainda mais elevados para a rolagem das dívidas públicas de países como Espanha e Itália; o que irá levar o Banco Central Europeu a ter que adotar novas rodadas de quantitative easing para evitar o colapso da área do Euro … A solução para a crise da Área do Euro passa necessariamente pelo retorno ao crescimento. Enquanto isso não acontecer os mercados continuarão duvidando da capacidade dos governos soberanos desses países em honrar seus compromissos. Está claro que uma maior austeridade fiscal, no bojo de um processo de desalavancagem maciço do setor privado, em nada contribui para restaurar o crescimento, sendo, na verdade, contra-producente. Por outro lado, a maior parte dos países da área do Euro, com excessão da Alemanha, não tem espaço para a realização de políticas fiscais anti-cíclicas. Dessa forma, o retorno ao crescimento exige um aumento robusto da demanda externa. Isso só pode ser conseguido por intermédio de uma desvalorização da taxa real de câmbio. Mantido o compromisso com a continuidade da moeda única, uma desvalorização da taxa real de câmbio só pode ser obtida através de uma redução coordenada de preços e salários nominais no âmbito da área do Euro. Daqui se segue, portanto, que o caminho para a solução da crise na Europa é a realização de uma grande política de rendas, onde os governos nacionais consigam negociar com trabalhadores e empresas um plano de redução de preços e salários nominais. José Luis Oreiro
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Em dezembro de 2011 a diretora do Fundo Monetário Internacional (FMI) Christine Lagarde em visita oficial a Nigéria cobriu de elogios o modelo econômico adotado naquele país. As palavras de incentivo e reconhecimento da diretora do FMI foram amplamente reproduzidas afinal o país apresenta números importantes, a saber: O Produto Interno Bruto (PIB) apresentou um crescimento de 7% em 2011, a produção de petróleo é a maior da África e quando falamos em PIB per capita o valor ultrapassa os 2 mil dólares.
Naturalmente, quando observamos o PIB per capita, devemos considerar que existem membros da elite local e internacional apropriando-se, individualmente, da quota-parte de pelo menos mil cidadãos pobres gerando um quadro real de pobreza absoluta ocupando o país africano o 158º lugar no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Madame Lagarde conhece perfeitamente estes problemas e antes de visitar a Nigéria mandou publicar no site oficial do FMI: “Um novo projeto de processamento de petróleo e urânio está pronto para impulsionar o crescimento econômico da Nigéria no próximo ano [2012]” Mas qual seria este novo projeto? De modo concreto observou-se, três dias após a visita da diretora do FMI, um gigantesco derramamento da Shell poluindo 120 quilômetros do litoral nigeriano. Fato em nada novo na história daquele país. O “novo projeto”, ao que parece, preservou a mesma fórmula de extração predatória procurando o maior lucro negando-se as mínimas condições de segurança. A preocupação de madame Lagarde certamente não está nas condições de vida do povo nigeriano. O FMI está de olho no crescimento da dívida externa do maior produtor de petróleo africano cujo volume não para de crescer ameaçando o fluxo de recursos para os bancos europeus e estadunidenses. Para garantir o pagamento dos títulos aos bancos o governo, dentre outras medidas, cortou o subsídio dos combustíveis gerando um aumento absurdo nos preços dos alimentos e transportes. A reação da população não poderia ser outra a não ser a convocação de uma greve geral somada a revolta em diferentes pontos do país obrigando um tímido recuo do governo em seus atos anti-populares. Lagarde no Brasil A diretora do FMI esteve no Brasil no mesmo mês de dezembro de 2011 e seguiu rigorosamente o script. Elogiou o modelo econômico nacional e declarou que o país pode servir de exemplo para as potências em crise. Obediente o governo brasileiro não demorou em dar o exemplo. Somando-se aos cortes rotineiros à educação e saúde o ministro Edison Lobão anunciou a decisão da presidente Dilma Rousseff que autoriza os novos leilões para o setor petrolífero neste ano de 2012. A exploração predatória do petróleo no Brasil está em marcha e segue o modelo internacional no qual as normas de segurança tornam-se supérfluas conforme provam o vazamento da Chevron somados ao aumento de acidentes envolvendo os trabalhadores do setor. Brasil, Nigéria e segurança energética A política econômica do petróleo no Brasil segue os passos do entreguismo o mesmo ocorrendo na Nigéria. Existem grandes diferenças entre os dois países isso é evidente. Entretanto igualam-se na abdicação do uso do poder econômico do petróleo em beneficio do desenvolvimento nacional. O Brasil garante com seu modelo de exploração petrolífera a compra dos títulos das empresas européias e estadunidenses tudo isso intermediado pelos bancos internacionais. Este é o exemplo que madame Lagarde aponta e de forma patrioteira a grande imprensa alardeia com todo apoio do governo. Neste momento não existe PIG ? Somados a esta questão existe ainda a ameaça de uma guerra de proporções mundiais envolvendo as intenções dos Estados Unidos em controlar o petróleo do Irã principal fornecedor de petróleo ao governo da China. E o Brasil? Na hipótese, não muito remota, de uma crise de abastecimento em função do fechamento do Estreito de Ormuz e conseqüente elevação dos preços do petróleo continuará de mãos amarradas impedido de implantar uma política que atenda os interesses nacionais? Lembre-se a atual política econômica do petróleo retirou da Petrobrás o monopólio existindo inúmeros entraves, em função da abertura do mercado nacional, a fixação de preços desconsiderando-se o preço internacional. É exatamente isso que acontece na Nigéria. Wladmir Coelho Segundo o modelo novo-clássico, adotado pelo ganhador do Prêmio Nobel de Economia em 2011, Thomas Sargent, a política monetária só pode ter efeito real se tomar os agentes de surpresa. A política monetária discricionária de ativismo de demanda tem sucesso contra o desemprego somente no curto prazo. Qualquer política monetária, caso seja estável, não interfere nas condições de equilíbrio com taxa natural de desemprego, isto é, em longo prazo.
Na trilha da doutrina monetarista, segundo a qual a inflação persistente é um fenômeno monetário, buscavam-se razões críticas contra os acréscimos persistentes no estoque monetário de acordo com a política keynesiana de “dinheiro farto e barato”. Isso levou Sargent à investigação sobre as motivações e restrições dos Bancos Centrais, que conduzem a política monetária. As teorias do comportamento do Banco Central partem da noção de credibilidade política: a capacidade dos condutores da política monetária alcançarem seus futuros objetivos depende das expectativas inflacionárias do público. Estas dependem, por sua vez, da avaliação pública da credibilidade dos condutores da política monetária. A literatura teórica novoclássica define credibilidade como o grau de confiança do público que uma mudança na política tomou lugar quando, de fato, tal mudança realmente ocorreu. Para obter essa credibilidade, uma política deve ser consistente, a cada estágio, com a informação pública a respeito dos objetivos e restrições enfrentadas pelo Banco Central. O público não acreditará em alguma política anunciada se sabe que ela é incompatível com os objetivos correntes dos seus condutores. A credibilidade pode ser concebida como a velocidade com a qual o público reconhece que uma mudança nos objetivos dos condutores de política monetária está efetivamente ocorrendo. Este conceito de credibilidade parece apropriado quando a política é discricionária e os objetivos dos condutores (conhecidos somente por eles) estão em constante fluxo de mudança. Essa caracterização de credibilidade sob discrição (arbítrio) e informação assimétrica difere da credibilidade como reputação. De acordo com esta última concepção, o fortalecimento do condutor de política monetária depende da probabilidade subjetiva correntemente atribuída ao evento. A política monetária não é totalmente divorciada do processo político geral, sendo parcialmente sensível aos desejos do Presidente da República, Congresso, comunidade financeira e, periodicamente, algumas outras pressões menos visíveis de instituições e grupos. Nesta abordagem novo-clássica, a escolha do Banco Central em termos de objetivos políticos – prevenir a inflação em relação a estimular a economia – depende da influência relativa exercida sobre ele dos defensores do pro-estímulo e dos da anti-inflação, no governo e no setor privado. A decisão padrão de política monetária é complicada por duas condições adicionais: 1. o condutor de política monetária, assumidamente, possui controle imperfeito da oferta de moeda: o crescimento efetivo da moeda desvia-se, aleatoriamente, do crescimento planejado pela autoridade monetária. 2. o condutor de política monetária possui incerteza a respeito de seus próprios objetivos futuros: o ponto importante, sob o ponto de vista monetarista, é que ele pode prever seus próprios objetivos incertos no futuro, quando escolhe a taxa corrente de crescimento monetário. Essa incerteza eleva-se porque não sabe, correntemente, com certeza, que futuro balanço ótimo ele obterá, entre pressões exercidas por vários grupos e instituições. Quanto mais estável o quadro político-social subjacente, menor será a incerteza. A baixa credibilidade e a ambiguidade, na especificação dos objetivos pelo Banco Central, podem ser, em alguns casos, deliberadas: o condutor da política monetária pode achar vantajoso escolher procedimentos de controle que tornam lento o reconhecimento público de mudanças nos seus objetivos. A ambiguidade maior provê o condutor com maior controle, no tempo, de surpresas monetárias. Quando há maior ambiguidade a respeito da política monetária, pode-se criar maior surpresa positiva, quando se cuida mais do estímulo ao crescimento econômico, e deixar as inevitáveis surpresas negativas para períodos nos quais se está relativamente mais preocupado com a inflação. A análise econômica tradicional geralmente tratava o comportamento dos condutores de política monetária como fosse determinado de maneira exógena. Em contraste, a literatura novoclássica sobre este tema enfoca, explicitamente, como os motivos, as restrições e a informação dos policymakers e do público determinam os resultados da política monetária. Uma tendência inflacionária, segundo a abordagem novo-clássica, é criada por interações entre a equipe econômica governamental e o público. Os modelos utilizando abordagem política parecem melhor equipados do que os modelos monetaristas, para explicar porque a preferência das autoridades monetárias pela ambiguidade nos anúncios públicos da política monetária e porque há largas flutuações nas taxas correntes de crescimento monetário e inflação. A partir de então, outros modelos – pós-keynesianos e institucionalistas – apareceram também, para combinar, explicitamente, alguma interação entre o comportamento político, as instituições, e a política econômica. Fernando Nogueira da Costa O grande segredo da indústria é criar o seu próprio mercado, os detentores deste segredo, a Alemanha S.A., a França S.A. e outros afins, criaram um ambiente propicio para as empresas de mais pequena dimensão, tal como, a Grécia S.A. e outros semelhantes (PIIGS), se pudessem endividar e comprar os seus produtos.
O mundo está repleto de segredos, a Grécia S.A. e os outros (PIIGS) também tinham os seus, manipulavam a contabilidade e eram geridos por incompetentes. Esta assimetria nos segredos, induziu alguns a emprestar demais e outros a endividar-se em excesso, sem ter em conta o risco, um risco mútuo, uns não receberem de volta o que haviam emprestado e os outros não terem capacidade para devolver. O risco era mútuo mas a responsabilidade parecia ou parece não ser. Os segredos, um dia tornam-se evidências, os hábitos denunciam as pessoas, a Grécia S.A. e os outros (PIIGS), estavam falidos. A Alemanha S.A e afins, não iam receber o seu dinheiro, uma situação problemática para a Administração, como explicar aos seus accionistas que iam perder dinheiro? Na Administração da Alemanha S.A., supostamente, há pessoas inteligentes, perante, prejuízos consumados, a melhor estratégia é redistribuir os custos pelos demais. A solução foi criar paralelamente um sindicato bancário internacional e um veiculo financeiro. O veiculo financeiro iria receber um empréstimo do sindicato bancário para pagar as dívidas à Alemanha S.A. e dos outros credores, além de absorver os passivos, o veiculo financeiro ficaria com direito sobre os activos da Grecia S.A., com intuito de privatiza-los e amortizar o empréstimo sindicado. No entanto, a receita das privatizações não parece ser suficiente para amortizar o empréstimo contraído junto do sindicato bancário, então, como o veiculo financeiro detêm poderes de gestão inicia uma reestruturação da Grécia S.A., manda cortar nas despesas, alarga os horários de produção e despede funcionários. Redução de custos para aumentar a produtividade da Grécia S.A., somente, com mais competitividade é possível crescer porque sem crescimento não se paga a dívida a ninguém. Sendo assim vai-se espremendo a Grécia S.A. e seus semelhantes até que haja lucro. Mas a Grécia S.A. também tem uma Administração e accionistas, eles resistem, até que lhes seja perdoada parte substancial da dívida porque eles sabem que não vão gerar lucros e a dívida já não é passível de ser paga. Só resta voltar a manipular os números. Miguel Amaral O Egito possui 18,2 bilhões em reservas provadas de petróleo existindo a expectativa de comprovação para mais 2 bilhões segundo informações do Ministério do Petróleo revelando estes números a pequena influência do país neste setor da economia quando comparado, por exemplo, as reservas gigantescas da Líbia de 56 bilhões de barris.
Entretanto, tratando-se de petróleo, não podemos desprezar o valor estratégico do controle de qualquer volume de reservas ocupando o Egito a condição de importante fornecedor para Israel país vital para o controle estadunidense no Oriente Médio e, por conseqüência, de sua segurança energética. O Egito, desde o acordo de paz assinado em 1979, tornou-se obrigado a fornecer petróleo para Israel existindo, dentre os motivos que levaram as últimas manifestações contra o ditador Mubarack, um assalariado dos EUA, a denuncia de condições vantajosas para o comprador nesta negociação. O transporte de petróleo para a Europa também depende da estabilidade política do Egito possuindo este país o controle do Canal de Suez cujo fechamento poderia aumentar em 10 mil quilômetros a viagem dos petroleiros. Imaginem as consequências do aumento no valor do transporte e conseqüente elevação dos preços dos combustíveis no velho continente atualmente mergulhado em profunda crise econômica. Assim para o capital dos Estados Unidos e União Européia a manutenção de um governo simpático torna-se imperativo. Desta forma as manifestações contra o ditador Osnir Mubarack deveriam, na ótica destes interesses, resultar no máximo em substituição dos nomes mantendo o atual modelo econômico. Neste ponto, a manutenção do modelo econômico, encontraremos pronto o discurso ideológico liberal através de suas agências de classificação afirmando e provando através das estatísticas de sempre as “maravilhas” da desregulamentação econômica enquanto a população enfrenta uma forte alta nos alimentos, desemprego, baixos salários e cortes no orçamento. Como sabemos todos estes itens, somados a exigência de liberdade política, tornaram-se os causadores dos protestos populares. Este sofrimento da população egípcia mostra-se em contraste aos indicadores econômicos apresentando o Egito 6% de crescimento em 2010 levantando a empolgação do sistema financeiro internacional que passou a exigir, inclusive, a admissão do país africano no grupo conhecido por BRIC. Neste clima de empolgação financeira a Fitch Ratings, importante agência de classificação de risco, através do seu diretor para o Oriente Médio e África Richard Fox, anunciou, em 13 de janeiro deste ano de 2011, a promoção do Egito em seus índices justificando que: “A economia do Egito mostrou-se resistente a crise global e está agora no modo de recuperação” e continua em seu otimismo: “As reservas [do Egito] estão crescendo e apresentam um pequeno déficit em conta corrente”, mas esta estabilidade poderia sofrer perturbações considerando-se a possibilidade de eleições este ano afirmando: “As eleições sugerem um aumento das incertezas políticas”. Espantoso, mas verdadeiro. Os interesses financeiros não combinam com mudanças democráticas a estabilidade dos grupos econômicos internacionais depende de governos autoritários e/ou submissos ao capital. Incrível ! No Egito, infelizmente, o desemprego, a fome desconsideraram os encantados índices das agências e levaram o povo às ruas do Cairo ligando de forma obvia estes problemas a figura do ditador. Os grupos financeiros, União Européia e Estados Unidos defendem este discurso e tentam conduzir o problema reduzindo as exigências populares a mera substituição da nefasta figura de Osnir Mubarack. Como parte desta manipulação o termo democracia fica restrito a condição de realizações periódicas de eleições excluindo-se o debate em torno da evidente falência do modelo desregulamentador e suas exigências de desnacionalização e reprimarização econômica. No Egito Osnir Mubarack radicalizou o processo desregulamentador iniciado por Anuar Sadat enterrando o modelo nacionalista de Estado Empresário instituido por Gamal Nasser nos anos 50. A figura de Nasser, de forma evidente, acrescenta uma tradição nacionalista e antiimperialista servindo de combustível para as reivindicações populares e nota-se, nas imagens dos protestos, a presença de muitas fotografias do líder nacionalista. Todavia durante os trinta anos de ditadura o conceito de democracia ensinado nas escolas e difundido por muitas ONGs locais encontra-se influenciado pela doutrina do Project on Middle East Democracy (POMED) instituição financiada com recursos do governo dos Estados Unidos e no Egito predomina, do ponto de vista populacional, jovens nascidos após a morte de Nasser em 1970 desconhecendo, portanto, alternativas de modelos políticos e econômicos além do apresentado através dos ensinamentos importados dos EUA. Neste quadro apresenta-se em vantagem a figura de Mohamed ElBaradei simbolizando o modelo de democracia do POMED, ou seja, um líder oposicionista moderado defensor de reformas pontuais no modelo econômico ( leia-se introduzir políticas sociais compensatórias) possuindo, principalmente, condições de garantir a segurança de Israel em natural associação aos interesses dos EUA notadamente nos assuntos relativos ao enfraquecimento do Irã. Baradei, considerado moderno demais durante o governo Bush, encaixa-se perfeitamente na proposta do governo Obama para o norte da África e Oriente Médio podendo representar o “novo” considerando-se a sua posição quanto a invasão do Iraque negando-se a reconhecer a existência de armas de destruição em massa preocupado, atualmente, em encontrar os meios para desmontar o projeto nuclear do Irã. Quanto ao petróleo Baradei busca os meios de criar uma agência internacional de regulação energética fazendo coro aos defensores da governança mundial via interesses dos oligopólios. Este quadro, considerando-se as questões econômicas, revela a crise do neoliberalismo, entretanto não surgiu de forma organizada internacionalmente uma proposta para atender e mobilizar a população trabalhadora rumo a defesa de seus interesses gerando o consenso, pelo menos neste momento, em torno de medidas compensatórias permitindo a sobrevivência deste moribundo modelo. Wladmir Coelho A Premiação do Nobel de Economia em 2011 força-nos lembrarmos o debate teórico do final do século passado. A crítica dos novoclássicos ao monetarismo hegemônico, no início dos anos 70 do século XX, centrou-se em dois pontos. Primeiro, no tratamento das expectativas (considerando-as adaptativas), que estaria violando a racionalidade com a suposição de erros sistemáticos (provocados por “ilusão monetária”) por parte de determinados agentes econômicos (os trabalhadores). Segundo, na pouca ênfase dada, nos modelos monetaristas e da síntese neoclássica, aos microfundamentos. A contribuição dos novoclássicos foi no sentido de introduzir as expectativas racionais e a necessidade de microfundamentos na macroeconomia.
A macroeconomia novoclássica das expectativas racionais, contribuição maior do premiado Thomas Sargent, idealizando o equilíbrio, explicava as flutuações econômicas do mundo real como refletindo efeitos dinâmicos de distúrbios monetários, face aos custos de obter informação e de ajustamento. O modelo abstrato de equilíbrio geral com preços flexíveis sugeria a neutralidade monetária. Para explicar porque, na realidade, a moeda era não-neutra, argumentava que, em nível menos abstrato, efeitos reais de curto prazo, devidos a distúrbios monetários, podiam surgir de informação imperfeita sobre a moeda e o nível geral de preços. Entretanto, variações monetárias antecipadas pelos agentes econômicos, em função da adoção governamental de política monetária sistemática, não importavam, porque elas não levavam a confusões informacionais. Sargent chegou, então, à mesma conclusão obtida por Abraham Lincoln: “Você pode enganar algumas pessoas todo o tempo, e todas as pessoas por algum tempo, mas não pode enganar todas as pessoas por todo o tempo.” O governo e/ou o Banco Central, para obter algum efeito real, teriam de “enganar os agentes econômicos”, pelo menos na primeira vez, quando aprontariam alguma surpresa. Dentro do mainstream, a posterior reação novo-keynesiana aos novos-clássicos incorpora as expectativas racionais, mas em conjunto com os microfundamentos de rigidez nominal. Contratos de longo prazo, explícitos ou implícitos, e salários de eficiência – manutenção de salários reais constantes, acima do de mercado, para evitar redução de produtividade e custos de demissão e de contratação – justificariam salários ou preços rígidos, revelando a incapacidade dos agentes em coordenarem suas decisões. O ajustamento aos distúrbios monetários poderia, então, não ser completo ou sincronizado. Essa abordagem demostra as falhas de coordenação pelo mercado. O custo de etiquetagem ou de cardápio [menu cost], que seria o custo de alterar preços nominais, é acoplado à concorrência oligopolista. As empresas estabelecem os preços relativamente às concorrentes, em estratégias que envolvem hipóteses sobre qual é o ambiente econômico. A interdependência estratégica e as divergências sobre o cenário futuro geram os problemas de coordenação, ou seja, o mercado não auto regula. Deve-se salientar também as diferenças entre economistas keynesianos. Na análise novokeynesiana, a característica essencial da explicação da flutuação econômica está nos preços não-flexíveis; com flexibilidade, acreditam na correção a longo prazo do desemprego. Na análise pós-keynesiana, a moeda não-neutra e o desemprego podem coexistir mesmo com perfeita flexibilidade de preços, tanto no curto quanto no longo prazo. A análise de Keynes, sob essa ótica pós-keynesiana, demonstra que a flexibilização de salários e preços, inclusive da taxa de câmbio, não removeria o desemprego do capitalismo. O problema do desemprego surge de decisões de gastos descoordenadas e/ou insuficientes dos agentes econômicos, que não empregam, necessariamente, todos os recursos produtivos – capital e trabalho – disponíveis. No fundo, o debate entre os novoclássicos e os velhos e novos keynesianos se dá somente a respeito das diferenças entre velocidades de ajustamento dos preços e da produção, em função de determinada variação exógena da demanda agregada. Os velhos e novos keynesianos acabaram por aceitar a interpretação de Milton Friedman, quando insistem que inflexibilidades nos preços são essenciais à explicação keynesiana de como produção e preços respondem no curto prazo a certa variação na demanda agregada. Na verdade, é o inverso da proposição de Marshall, adotada originalmente por Keynes. Diante da hipótese que preços se ajustam mais rapidamente que quantidades, há a distinção marshalliana entre equilíbrios de mercado: a de curto prazo e a de longo prazo. Se a velocidade de ajustamento dos preços é mais rápida do que a da produção, a moeda é neutra. Há neutralidade da moeda inclusive no curto prazo, de acordo com a visão novoclássica, devido à hipótese que os preços podem se ajustar instantaneamente e a produção não pode. Portanto, a diferença entre economistas novos-keynesianos e novos-clássicos se dá porque os primeiros (assim como os monetaristas) acreditam que a moeda é neutra apenas no longo prazo, mas não sendo no curto prazo. Já os últimos afirmam que, quando a oferta de moeda é a esperada, ela é neutra, inclusive, no curto prazo. Essa foi a colocação de Thomas Sargent. A distinção fundamental entre os velhos e os novos keynesianos está que estes presumem rigidezes [rigidities], com velocidade mais lenta de ajustamento de preços, e aqueles, preços menos que perfeitamente flexíveis, com adesividade [stickiness]. Os velhos-keynesianos lêem, em Keynes, uma teoria de “salário nominal adesivo”; os novos-keynesianos, vêem salários e/ou preços rígidos; e os pós-keynesianos destacam, em Keynes, não essas rigidezes, mas sim as propriedades essenciais dos juros e da moeda. Aparentemente, o mainstream acha que a macroeconomia teria que ter fundamentos microeconômicos, enquanto os pós-keynesianos acham que a microeconomia é que teria de ter fundamentos macroeconômicos, isto é, as decisões tem de considerar o contexto e/ou o cenário futuro. Na verdade, não deve haver uma determinação de uma pela outra, mas ambas configuram a realidade. O todo é interpretado pela interação entre elas. Se, em vez da contraposição, os analistas buscassem essa síntese macro-micro, a convergência entre os novos-keynesianos e os pós-keynesianos poderia ser maior e o diálogo entre os economistas de formação ortodoxa e os de formação heterodoxa mais frutífero. A Premiação do Nobel de Economia em 2011 também faz lembrar a velha piada corporativa de que “a Economia é o único campo onde duas pessoas podem compartilhar um Prêmio Nobel dizendo exatamente coisas opostas!” Por exemplo, citava-se a Premiação do Nobel de Economia em 1974: Gunnar Myrdal, um socialista sueco defensor do Estado de Bem-Estar Social, e Friedrich August von Hayek, um reacionário austríaco anti-Estado. Pois bem, a Premiação deste ano destacou trabalho acadêmico que foi falseado (e, portanto, superado cientificamente) pelas descobertas da Neuroeconomia. Esta foi objeto de Premiação do Nobel de Economia em 2002, através de Daniel Kahneman, psicólogo que falseou a premissa de racionalidade que dava suporte intelectual à hipótese de expectativa racional. A irracionalidade foi demonstrada através do comportamento recorrente dos investidores, baseando suas decisões em regras de bolso, cuja maioria é inconsistente. Eles tem crenças enviesadas e não expectativas racionais. Fernando Nogueira da Costa Luiz Gonzaga Belluzzo, ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda é professor titular do Instituto de Economia da Unicamp. Em 2001 foi incluído entre os 100 maiores economistas heterodoxos do século XX no Biographical Dictionary of Dissenting Economists. Hoje, no VALOR ECONÔMICO.
Leio na imprensa brasileira artigos instigantes, alguns severamente críticos, a respeito de politicas industriais, de comércio exterior e de competitividade, sobretudo as que envolvem a promoção de "campeões nacionais". Os alvos das críticas são as medidas brasileiras de proteção à industria nacional e de estímulo à restruturação empresarial. Entendi conveniente recorrer a um artigo que escrevi para a revista Praga em maio de 1998. Dizia então, que, ao investigar as razões do desenvolvimento asiático, os autores mais inclinados à análise histórica e institucional concentraram sua atenção nas seguintes questões: 1) a natureza e relevância das políticas industriais (e de constituição de grandes grupos nacionais), sempre amparadas no direcionamento do crédito e nas taxas de câmbio reais "competitivas"; 2) a importância dos acordos implícitos e das relações de "cooperação" e "reciprocidade" entre o Estado e grupos privados; 3) o papel da estabilidade macroeconômica, sempre buscada mediante a prudente gestão monetária e fiscal, característica dos países da região; 4) a forma da inserção internacional. Os estudos cuidaram de sublinhar as relações peculiares entre os Estados nacionais, os sistemas empresariais e a "inserção internacional". Procuraram chamar a atenção para a especificidade da "organização capitalista" em que prevaleceram: 1) nexos "cooperativos" e de reciprocidade nas relações capital-trabalho; 2) negociações entre os grandes conglomerados e seus fornecedores; 3) íntima articulação entre os bancos e a grande empresa nacional e 4) "administração estratégica" do comércio exterior e do investimento estrangeiro. Na visão dessa corrente teórica, tal arquitetura institucional não só assegurou excepcionais taxas de investimento e de acumulação de capital, como também ensejou programas de "graduação" tecnológica. Esse arranjo garantiu, assim, expressivos ganhos de produtividade e, consequentemente, consolidou a posição competitiva dos grandes grupos nacionais (sim, os "campeões", senhoras e senhores) diante dos rivais e concorrentes no mercado internacional. A partir das reformas do final dos anos 70 do século passado, a China irrompeu no cenário asiático com uma receita um tanto modificada. O novo protagonista apoiou-se na combinação entre uma novidade, ou seja, a atração de investimentos diretos estrangeiros e, uma tradição, isto é, a forte intervenção do Estado na finança e no comércio exterior, com o propósito de sustentar uma agressiva estratégia exportadora e de crescimento acelerado. A ação estatal cuidou, ademais, dos investimentos em infraestrutura e utilizou as empresas públicas como plataformas destinadas a apoiar a constituição de grandes conglomerados industriais preparados para a batalha da concorrência global. Não é difícil perceber que as estratégias chinesas de expansão acelerada, impulso exportador, rápida incorporação do progresso técnico e forte coordenação do Estado, foram inspiradas no sucesso anterior de seus vizinhos, sócios e competidores. Os sistemas financeiros que ajudaram a erguer os países asiáticos eram relativamente "primitivos" e especializados no abastecimento de crédito subsidiado e barato às empresas e aos setores "escolhidos" como prioritários pelas políticas industriais. O circuito virtuoso ia do financiamento para o investimento, do investimento para a produtividade, da produtividade para as exportações, daí para os lucros e dos lucros para a liquidação da dívida. Nos final dos anos 80, intensificaram-se as pressões externas para a liberalização cambial e financeira, o que levou às concessões que deflagraram a crise de 1997/1998. À exceção da China, os asiáticos, particularmente Coreia e Tailândia, aceitaram os termos da "desopressão" financeira: 1) a eliminação dos controles cambiais, ampliando a possibilidade dos agentes domésticos realizarem transações em moeda estrangeira que não decorriam de operações em conta corrente; 2) a liberação das taxas de juros, com restrição progressiva dos créditos dirigidos e subsidiados e 3) a desregulamentação bancária, ensejando que os bancos locais pudessem ampliar as atividades para além do financiamento das empresas produtivas. A internacionalização financeira, em vez da maior eficiência na alocação de recursos, levou, isto sim, à valorização cambial, à especulação com ativos reais e financeiros, à aquisição de empresas já existentes, ao sobreendividamento e, finalmente, à parada súbita e à fuga de capitais. Depois da queda, os governos dos países asiáticos retomaram, em boa medida, o controle das políticas estratégicas. O governo coreano, por exemplo, resistiu às pressões estrangeiras para vender ou desmanchar os grandes conglomerados. Para justificar suas exigências os sabichões da mídia e do establishment americano falavam, então, de "crony capitalism", capitalismo de compadres. A expressão foi, mais tarde, tomada de empréstimo pelos críticos para caracterizar as relações incestuosas entre a política e a Grande Finança nos Estados Unidos. Um dos raros empréstimos seguros na farra do subprime. João Melo Para quem não sabe, detesto chavão.
Frase feita empobrece demais o texto, denota pouca leitura. Quando um deles escapa, não me contenho. Na redação, era vir o chavão de lá pra eu completar daqui, esbravejando: “Pistas escorregadias é a mãe! “Água mole em pedra dura é o cacete!” “Pelos quatro cantos da Terra? Só se for no mundo dessa besta quadrada dos infernos!” É o meu jeitinho – a turma já conhece, nem assusta mais. Nessa linha, várias vezes disse ao repórter para, ao escrever, “levar em conta a burrice do outro lado”. Modo bem gráfico e delicado de alertar o escriba a ser absolutamente claro, não dar margem à dupla interpretação, escolher bem as palavras, e – talvez o mais complexo – pensar bem antes de escrever. Meu velho chefe Fernandão (Vieira de Mello) dizia: “Pensa, filho. Depois, pensa de novo e mais uma vez. Pensa até doer.” Escrever para ser ouvido ou visto pela massa é tarefa complexa. Temos que levar em conta que chegamos ao mesmo tempo a todo tipo de gente: velho e jovem, gênio e jênio, doutores e quem não teve a chance de estudar, interior e capital, norte e sul, homem e mulher, crente e ateu, algoz e vítima. Exemplinho besta: fizemos na TV Miramar uma reportagem sobre como Moçambique está ( ou não está) preparado para detectar e agir em caso de tsunami. Bem feitinha a matéria. Pois, no dia seguinte, teve rádio dando que havia uma alerta de tsunami “em vigor” para o país. O jênio viu a matéria, entendeu lá do seu jeito e saiu vociferando por aí. Afora o mau jornalismo (os caras nem checaram a informação), serviu de alerta para mim. Mesmo a matéria estando certa, em um país em que nem todos falam bem o português, é preciso ter muito cuidado mesmo. Se for irônico no texto, que deixe muito claro. Aliás… evite. Nem todos entendem, e, entre os que entendem, nem todos vão gostar – por serem o alvo da ironia. Se não tiver certeza do que vai dizer, não diga. Como o público é grande, sempre alguém lá do outro lado vai ter. Se for atacar os outros de propósito, saiba que vai ter que sustentar sua tese. Vai ganhar alguns aplausos, mas as vaias podem ser maiores. E, ó: se injuriar, caluniar, difamar alguém, vai dar processo. Aguenta depois. Mimimi é a mãe. Intenet? Ainda é cara, pra alfabetizados, mas circula muito mais que cartinha pra amigo, comentário na roda de bêbado e até que jornal impresso. Chega “aos quatro cantos da Terra”, como diria um supracitado. Não sabe brincar? Guarda os carrinhos, querido. Na internet, quem lê algo que gosta, ou não gosta, faz outros saberem daquilo. Sem contar que, por ser uma rede, a coisa circula até quando não se quer. É um blog, que tá pendurado num serviço, que tá conectado num servidor, que junta num outro troço, que está num portal imenso, que dá link prum outro trem. É só dar um tempinho pra roda girar. E, se você escreveu bobagem – ou não entende como essa roda gira – o trem passa por cima de você. “Não me julguem por um único texto”, “Não foi isso que quis dizer”, “Meus amigos sabem que não sou racista”, “Não sou homofóbico – até tenho um amigo gay” é o cacete, fio. Da próxima vez, leve em conta a burrice de quem lê. Mas, por favor, considere a inteligência também. Post Scriptum (é o que quer dizer PS, seu jênio): A idéia pra este texto aí veio de uma conversa tuítica com a insone Carolina Mendes, do “Carolina, Minha Filha! e outros quatrocentos blogs. Todos interligados. Eduardo Castro _Possivelmente, há 5 anos atrás ninguém seria capaz de prever o estado caótico em que se encontraria a Europa, à data de hoje, e é pouco provável que hoje alguém consiga fazer as mesmas previsões para o mesmo lapso de tempo. Talvez, a única excepção, sejam os tipos de Wall Street e/ou da City.
Quando penso na situação grega e no comportamento dos parceiros europeus não consigo evitar fazer uma analogia de cariz médica. Penso naquele doente em estado grave que se dirige as Urgências, onde diagnosticado com gravidade é imediatamente submetido à cuidados intensivos, à cirurgia e o consequente internamento e tratamento para debelar a doença. No caso, do doente chegar a Urgência já em caso terminal, numa situação em que já não é possível reverter a situação, não há lugar à cirurgia, nem o consequente tratamento para debelar a doença, simplesmente, o doente fica internado para receber tratamento paliativo para minorar a dor e proporcionar uma morte digna. Penso, que é isto, que está a acontecer com a Grécia, não tem salvação possível, é a explicação que encontro para as sucessivas Cimeiras Europeias nunca alcançarem nenhum acordo, os alemães cogitam deixar cair os gregos. Algo que ainda não aconteceu porque o doente grego não sofre de uma patologia cancerígena, mas de peste. Uma peste que pode contagiar os demais, enquanto, os alemães não encontrarem um antídoto eficaz para restringir a peste à Grécia e evitar o contágio à Alemanha, nomeadamente, ao seu sector bancário. No entanto, já começam a ser muitos os analistas, que consideram o sistema financeiro alemão um hospedeiro da dita peste. Enquanto isso, os gregos vão continuar num estado vegetativo e moribundo. Estou convencido que o destino da Grécia, já está decidido, será a queda e a bancarrota. É apenas uma questão de tempo. Miguel Amaral _As perspectivas para a Zona Euro e por inerência para a UE são cada vez mais sombrias, o sol para os países periféricos está em permanente metamorfose dissipando a luz do horizonte. É certo que uma crise desta dimensão não tem origem apenas numa causa mas sim num somatório de circunstâncias. Provavelmente, as circunstâncias mais visíveis são a ausência de uma liderança coesa do projecto europeu e a predominância Germânica na resposta à crise.
Uma resposta que tem sacrificado os países mais frágeis da Zona Euro porque a receita Germânica baseada na austeridade fiscal apenas tem agravado os sintomas da crise sem dar resposta as causas. A periferia da Zona Euro afoga-se em recessão, mergulhando os países numa contracção violenta, com sucessivas falências e o respectivo aumento do desemprego. As populações são ainda castigadas com uma brutal redução dos seus rendimentos e um brutal aumento do seu custo de vida. O que antes podia ser resolvido em cada país com uma desvalorização cambial, hoje na ausência de política monetária, é feito através de uma desvalorização competitiva, que implica uma redução do custo do factor trabalho ou então aumento do desemprego. Aliás, o desemprego tem sido massivo nos vários países da periferia, a tendência será para aumentar, não seria nada surpreendente, assistir a uma quebra nas receitas dos Estados, precisamente, devido ao exagerado esforço fiscal. Enquanto, os países da periferia não souberem reinventar-se, as suas populações conhecerão a miséria, e as pessoas não entenderão o porquê. Mas a miséria contagia-se, até alcançar a Alemanha, e expor as suas fragilidades, nomeadamente, os seus bancos públicos intoxicados. Toda a construção europeia foi feita a imagem e semelhança da Alemanha, todas as suas indecisões e a sua falta de solidariedade foi apenas para salvaguardar o seu sistema bancário e a sua economia. Sacrificaram-se os mais fracos, que não tinham consciência da sua condição, para salvar o mais forte. Quando os mais fracos recuperarem a sua consciência, preservarem a sua racionalidade, não estarão mais na disposição de fazer cedências, possivelmente, viveremos uma nova era, a Era da Germano Fobia, que poderá começar na Itália ou na Espanha. Miguel Amaral |