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Maputo
_No último fim de semana do Guilherme conosco em Maputo, deixamos que ele escolhesse o passeio que queria fazer. Ele, que adora o mar, escolheu conhecer a praia do Bilene. Era o fim do mês de julho, alto inverno, e eu logo vi que não ia dar praia… mas o entendimento adolescente do mundo é diferente do nosso e na cabeça dele praia era sinônimo de sol e calor. E como o aprendizado adolescente também é diferente, se não fôssemos, ele ia continuar pensando assim. Tem que ver para crer.
Também queríamos conhecer Bilene, praia tão falada por aqui. Vestimos agasalhos e partimos no sábado de manhã, pela Estrada Nacional número 1 (EN1), rumo ao norte. Até o Otto participou… Passamos o limite da província de Maputo com a província de Gaza e seguimos na mesma estrada até a cidade de Macia, onde pegamos uma pequena estrada à direita, a qual percorremos por mais 30 quilômetros rumo ao Índico. Esses cerca de 200 quilômetros são percorridos em estrada asfaltada, não duplicada, mas bem boa. No fim da estrada, após duas horas de viagem, a vila Bilene. A famosa praia fica em uma enorme lagoa de água salgada, a lagoa Uembje, que tem 27 quilômetros de extensão e é separada do Oceano Índico por uma estreita faixa de dunas. Não deu praia. Mas o visual valeu tudo. Por causa da ventania forte típica da proximidade do mês de agosto por aqui, não ficamos muito na praia, mas almoçamos em um restaurante à beira mar e curtimos a bonita vista da enorme lagoa. Nesse dia entendemos porque no verão tanta gente vai à praia do Bilene: facílimo acesso, água calma e visual maravilhoso, típico dos melhores pontos turísticos praianos do mundo. Mais sobre a praia do Bilene no blog Crónicas de Maputo, na Wikipedia e no portal do governo da província de Gaza. Sandra Flosi
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_[ Uma História de Fernando Cruz - Lourenço Marques ]
“Era o ano de 1974 logo após os eventos do 7 de setembro (NE: data em que, em 1974, foi assinado o Acordo de Lusaka, que deu a independência à Moçambique. Mas a troca de poder efetivou-se somente em 25 de junho de 1975). Havia nessa altura um tanque de amónia líquida a 100 metros do muro oeste da fábrica de cimento. Se forem ao GoogleEarth ainda podem ver os vestígios de uma plataforma circular onde se encontrava o tanque, junto aos restos de um edifício, que era onde as bombas de compressão estavam instaladas. Mais tarde este tanque, o maior dos 3, foi deslocado para o actual poiso, a 800 metros a oeste (+ ou -) do local original. Também dá para ver na GoogleEarth. Bom, o tanque continha amónia líquida, mas quando havia muito calor e o tanque estava pouco cheio, as bombas não davam conta do recado, a pressão dentro do tanque subia demasiado, e nessas alturas era preciso soltar amónia em vapor pela válvula de segurança (segurança para o tanque) no topo do tanque. Ora se o vento soprasse de sul, essa amónia espalhava-se pelos bairros da Matola. Toda a gente cheirava a amónia. Os olhos das pessoas até ardiam um pouco, mas como com a amónia desapareciam os mosquitos, ninguém se queixava. Até dava jeito. E assim viviamos em equilíbrio um tanto instável. Deram-se os acontecimentos do 7 de Setembro. Aquela zona toda nas proximidades do Rádio Clube de Moçambique estava em pé de guerra e bloqueada por militares. Ninguém conseguia sair de casa, muito menos ir à Matola, e muito menos meter pela estrada que servia o tanque para inspecionar a instalação. Durante uns dias eu transpirei como nunca me lembro ter transpirado, e acho que até esgotei a lista dos deuses a quem rezei. Só me corria pela cabeça falta de electricidade, paragem das bombas compressoras, aumento desmedido da pressão da amónia no tanque, válvula de segurança a disparar, e amónia em vapor a sair, levada pelo vento, em quantidades suficientes para matar muita gente na Matola. Ninguém sabia de nada. As estradas estavam bloqueadas. Eu só imaginava pior. Até que, passados esses poucos mas intermináveis dias, consegui, com um colega, meter-me no jipe e ir tentar averiguar o que se passava com o tanque. À entrada da estrada de acesso encontrei-me com um soldado da Frelimo que montava guarda àquela zona e não nos deixava passar. Finalmente o convenci que o caso poderia ser grave e ele precisava de ajudar. Foi então connosco no jipe, não fossemos nós tentar sabotar aquela coisa. Estava tudo calmo e sereno. Não tinha havido fugas de amónia. Ninguém tinha morrido por causa da amónia. E lá estava o nosso empregado shangana que pouco disse. Quando lhe perguntámos se tinha havido fugas de amónia, só nos disse – aiiinda! Tudo tinha voltado ao normal, não sei como nem por quem. Mas tenho grandes suspeitas do nosso empregado shangana. Dos mosquitos sobreviventes nada soube”. Eduardo Castro _Este post conta uma história que acabou em 29 de agosto. Conto ainda que com um pouco de atraso, porque acho que é informação importante para quem vai ainda passar pelo mesmo. É a história de meses para se obter a renovação do DIRE: Documento de Identificação de Residente Estrangeiro.
O documento é feito no departamento de imigração e sofreu algumas alterações nos anos que estamos aqui. Quando chegamos era manual. Colocava-se um selo (com um carimbo, claro) e à mão se preenchia dados como a validade. Uma assinatura do funcionário do departamento e pronto. Custava MT 4.000,00, se não me falha a memória. Em meados de 2010, o processo foi modernizado. O DIRE passou a ser um cartão, semelhante ao bilhete de identidade moçambicano, feito eletronicamente em uma empresa. O departamento de imigração só faz pegar a documentação e encaminhar para a empresa que emite o cartão. O valor subiu, em um primeiro momento, para MT 24.000,00. Como houve muita chiadeira conseguiram baixar e passou a MT 19.000,00, sendo que para os países membros da CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa) ficou em MT 14.400,00. O custo é mais alto, mas o documento é mais eficiente e mais seguro, o que é extremamente positivo. No entanto, nem todos ficaram satisfeitos… pessoas que trabalham em determinadas salinhas no prédio da imigração ficaram desnorteadas. Antes, suas salas (onde há sempre só uma mesa, para um só funcionário em cada sala) eram sempre visitadas por pessoas que, por uma razão ou por outra, queriam o DIRE sem passar pela burocracia, espera, demora, fiscalização de documentos, etc. etc. etc. A solução estava ali: o funcionário pegava o selo, colava no passaporte, carimbava, preenchia… e quem diria depois que não foi feito tudo como tinha que ser? Agora já não é assim. Aquele funcionário sozinho naquela salinha de uma só mesa já não pode tanto. Já não é apenas dele que depende o processo. O selo, o carimbo, a assinatura transformaram-se em uma empresa. Não digo que não haja já um esquema da própria empresa para vender DIREs a quem os quer de forma fácil. Mas os envolvidos serão outros. E aqueles que já não estão mais no esquema (pelo menos nesse primeiro momento), estão perdidos. E tentam encontrar outras formas, outros esquemas, desesperadamente… Quando meu DIRE estava para vencer, dei entrada nos papéis e paguei o valor que me foi informado pelo caixa no balcão. O valor que ele me pediu foi MT 14.500,00. Eu já havia ficado na fila para tirar a fotografia para o documento por muito tempo, tempo que me pareceu ainda mais imenso no calor africano daquele subsolo repleto de gente de todo o mundo. Não havia no local nenhuma tabela de preços exposta. Quando ele, um funcionário público do Estado, falou o valor, entreguei o dinheiro, peguei o recibo e fui embora. Recibo de 14400 pelo DIRE Só em casa me dei conta que no recibo diz: MT 14.400,00. Fui lesada em MT 100,00. Já haviam me dito que no tal departamento não se dá troco. Tem que levar o dinheiro trocado ou deixar por lá o que sobrar. Mas eu não sabia que, com olhos de raio-X, o funcionário conseguiria saber que notas eu tinha na carteira e já me pediria o valor que eu pagaria. E, no caso, os olhos de raio-X se enganaram, porque eu até teria dinheiro trocado. Mas e agora? Voltar e dizer que fui enganada? Ele negaria e eu não teria como provar. Tudo isso foi no dia 11 de maio de 2011. No recibo que me foi entregue dizia que a data para retirada (levantamento, por aqui) do documento seria 26 do mesmo mês. Quando comentei com alguns amigos, riram: “Quinze dias? DIRE? Êêê! Pode esquecer…” Não esqueci. Dia 27 estava lá. Afinal, naquele momento meu DIRE estava vencido e o recibo que eu tinha em mãos também. Dizia nele que, a partir do dia 26 eu poderia levantar o novo DIRE. Não estava pronto. Então, pedi que o funcionário me entregasse novo recibo ou indicasse (com direito a assinatura e carimbo, claro) por escrito naquele recibo uma nova data. Eu já tinha visto, no primeiro dia que estive lá, uma senhora conseguindo isso. Mas eu só tinha visto o funcionário escrevendo nova data e ela saindo. Não sei como foi a argumentação dela… Então, comecei a minha: “Quando um policial me parar na rua e pedir os documentos, vou mostrar um passaporte com DIRE vencido e um recibo que diz que eu deveria ter já levantado o novo DIRE. Então, peço que me entreguem novo recibo ou indiquem nova data nesse que tenho, para que o policial não diga que eu é que não vim cá levantar o documento”. Pedido negado. Tentei de novo, com um pouco mais de clareza na argumentação: “Meu sr., não preciso contar como são as coisas na rua por aqui… se o policial me parar nessa situação, não vai permitir que eu siga em frente sem me pedir dinheiro”. Pedido negado com a contra-argumentação de que “os polícias todos sabem que o DIRE está atrasando, porque estamos com esse problema há meses e a chefia de polícia já foi avisada”. Ainda mais clareza, já quase sem paciência: “Justamente porque eles sabem dessa situação é que andam a parar estrangeiros o tempo todo. Então, me dê o número do seu celular, porque quando o policial me parar eu ligo e o senhor explica a situação”. “Êêê!? Meu celular? Vai me ligar de noite? Pra falar coisa de trabalho?” “Se na hora de trabalhar não quer fazer seu trabalho…” Enfim, a conversa virou discussão e quase saí presa por desacato ao funcionário público quando ele me olhou com aquele olhar e cheguei no nível de clareza de expressar, em tom mais alto do que ele desejava, o que eu achava que precisaria fazer ali para conseguir o maldito carimbo. Saí sem a prorrogação do prazo oficial e a orientação para que eu voltasse daqui uma semana. Tecnicamente, fiquei numa situação em que, ou dava dinheiro para o pessoal do balcão carimbar o protocolo e indicar uma nova data, ou dava dinheiro quando um policial me parasse na rua e identificasse que meu documento estava vencido. Nesse dia, decidi sair do país. Para minha sorte, nos três meses que durou a espera pelo documento que ficaria pronto em 15 dias não fui parada por nenhum policial. Para meu azar, todas as semanas voltei lá e todas as semanas não havia DIRE pronto e todas as semanas era para voltar na semana seguinte. Desde que mudou o sistema do DIRE essa história tem se repetido com muitas pessoas. Todos estrangeiros com quem converso sobre o assunto esperaram pelo menos dois meses. A pergunta que fica é, por que, então, eles não dão um prazo mais largo para irmos retirar o documento? Já contei no texto Descrença que tipo de oportunidade eu buscava quando mudei para Moçambique. Assim como muitas pessoas que aqui estão ou por aqui passaram, vim para contribuir, dar parte do que tinha, oferecer meu conhecimento. Mas não para entregar nada a quem me extorquisse. Ver o estrangeiro como alguém de quem se pode tirar algo, alguém que deve dar vantagem (à força) não é o melhor caminho. Logo que cheguei, um amigo moçambicano, empolgado com meu conhecimento sobre reciclagem de resíduos sólidos, disse: “com essas informações que você tem, vamos mudar o país”. Eu acreditei, me empolguei com ele e por alguns meses vivi esse sonho. Até perceber que não havia tanto interesse assim na mudança. Afinal, como está, alguém ganha com isso. E esses alguéns não querem mudar o país, porque são pessoas gananciosas e sem limites. Eu não consegui apresentar minhas propostas para quem deveria, as empresas que conheci não colaboraram, o lixo continua nas ruas, as pessoas continuam sem renda, as matérias-primas virgens continuam sendo exploradas, mesmo quando há tanta para ser reciclada. Os agentes que me atenderam no departamento de imigração, com seu comportamento, deixaram claro que não querem gente como eu em Moçcambique. Eles e outros que cruzaram meu caminho por aqui, como os guardas de trânsito do texto De como os mulungos sofrem (2) ou o agente do correio do texto Será que paguei propina? E como eu não preciso disputar espaço com quem não me quer no seu pedaço, deixo Moçambique. É verdade que com uma certa tristeza no coração por todos que me receberam bem. Obs.: No meio do processo houve outros detalhes de taxas cobradas a mais e documentos desnecessários que foram pedidos para dificultar o processo na tentativa de se vender facilidade, mas o post já está grande demais e acho que passei o recado. Sandra Flosi _A Mozal foi considerada mais uma vez a maior empresa de Moçambique, não surpreende, trata-se de um dos maiores produtores de alumínio do continente. Em simultâneo, o pais vive envolto numa intensa actividade de prospecção de petróleo e gás natural, os resultados têm sido positivos. Enquanto, Moçambique vive neste frenesim, o FMI acaba de fazer uma recomendação ao Governo, para terminar com a subvenção aos combustíveis, um dos principais factores, que contribui para a inflação no país, e que esteve na base das últimas manifestações violentas que se verificaram em Moçambique.
O FMI também fez um apelo para o aumento da arrecadação fiscal, aumentando o esforço fiscal que incide sobre as empresas, nomeadamente, sobre os grandes projectos. Argumentando, que o factor fiscal não é determinante na decisão de investimento nestas grandes multinacionais. Coincido neste ponto de vista, mas penso que não será uma tarefa fácil, não apenas pelo peso do lobby destas empresas mas também pela falta de recursos físicos e humanos da própria administração fiscal. Em Moçambique, apenas metade da população tem acesso à serviços bancários, o que denota uma falta de sofisticação nos hábitos, que se repercute na falta de modernização do Estado, sem um salto qualitativo nos serviços prestados pelo Estado, resulta impossível pensar em diminuir o já diminuto Estado Social porque se tal acontecer vai ser um incentivo para o incremento da economia paralela, já por si grande, e das tensões sociais. Penso que o caminho mais sensato, será nutrir o Estado dos instrumentos necessários para aumentar a receita fiscal das pessoas colectivas, melhorar a qualidade dos serviços prestados à população, contribuir para a sofisticação dos comportamentos e se possível aumentar a rede de protecção do Estado. Miguel Amaral _Parado no sinal fechado, voltando do almoço, vi a loirinha abrir a janela do Jeepão 4×4 e fazer um gesto pra menino que estava ali, no cruzamento das avenidas Mao Tse Tung (ele mesmo) e Julius Nyerere (ex-presidente da Tanzânia), zona nobre de Maputo. O garoto veio, correndo entre os carros. A moça deu a ele dois saquinhos – um azul e outro rosa. Eram de algodão doce. Os olhos do menino ficaram bem arregalados, e muitos foram os sorrisos e agradecimentos.
Abriu o sinal, o trânsito andou, o Jeepão foi embora, e eu, sem vaga pra parar o carro, acabei por ter que dar outra volta no quarteirão, parando quase no mesmo sinal fechado, uns dois minutos depois da cena inicial. Tempo suficiente para ver o mesmo menino, os mesmos saquinhos. Só que agora, ele já estava tentando vendê-los. Decepcionado com tanta “ganância”? Não fique. Sorriso e algodão doce podem até preencher o coração do menino de amor, mas não mata a fome dele. O que mata a fome dele é xima: água e farinha de milho, base da alimentação de milhões e milhões de africanos. “Quebra um pouco o encanto”, mas pobreza não tem encanto. Olhos azuis cercados por cabelos amarelos, quando encontram olhos pretinhos num rosto tristonho, costumam brilhar de compaixão e piscar intensamente, cheios de doçura – mas não enchem barriga. Pra alguns também “quebra o encanto” saber que aquele agasalho velho que foi doado para “os pobres da África” não é entregue a um “pobre da África”. É destinado a instituições (em alguns países é mesmo o governo que faz isso) que – segure seu queixo, loirinha – vendem essas roupas, aos fardos, para revendedores locais. Há verdadeiros mercados só com as roupas doadas. Aqui em Moçambique chamam a isso de “Calamidades”. “Comprei nas Calamidades”, é a frase. Camisas, calças, cintos, vestidos, agasalhos, sapatos, cobertores, tecidos, chapéus, toalhas, sacos de dormir, barracas de lona, fogareiros. Tem de tudo nas Calamidades. Sim, loirinha: eles vendem aquele vestidinho que você doou “com tanto carinho”. E isso é ótimo. Gera emprego e renda pro vendedor, distribuidor, revendedor, costureira que conserta o que não vem bom, motorista do caminhão. Alguém usa a roupa, mas alguém também ganha dinheiro – e compra farinha pra fazer xima. “Mas estão lucrando em cima de mim! Da doação que fiz com tanto carinho!” Bom, chegamos ao ponto da indignação, então: é que eles ganham, e não você – que doou “com tanto carinho”. Entrevistei Dom Paulo Evaristo Arns, uma vez, nas vésperas de um Natal. No clima, pediu para as pessoas não restringirem a caridade ao fim do ano, e, também, a “doarem de verdade”. “Mas o que é doar de verdade, Dom Paulo?” “Doar de verdade é tirar de si – do que lhe fará falta – para dar a quem precisa. A doação de que fala a Bíblia é aquela em que você arranca de si próprio para que o próximo receba, mesmo que você fique sem.” Quantos ficarão decepcionados na porta do Céu! Vão bater e voltar, mesmo tendo doado milhões de dólares para a caridade. Ao longo da vida, “deram de coração”, “deram com carinho” – mas só o excedente. Deram porque não fazia falta. Ajudaram ao próximo? Sim. Mas, pelas palavras de Dom Paulo, passando longe da tal “doação de verdade”. Nesta semana, a ONU “alertou para a fome” na Somália. Está hoje nos jornais que “se ninguém fizer nada, 800 mil pessoas morrerão de fome no Chifre da África”. E tem um monte de matéria, repórteres vindo, programas já sendo montados. Sacos de arroz serão enviados em aviões militares. Princesas e atrizes virão beijar os pobrezinhos, e chorar diante de tanta miséria. Talvez algum grupo de artistas de renome monte um show, ou – quem sabe – grave uma música! Cachês serão doados e todos os lucros – excetuadas as despesas, claro – serão doadas para combater a fome na África. Que tal? “We are the World”, de 1985, foi exatamente isso. O “sobrenome” do projeto era “USA for Africa”, e surgiu quando de um onda de fome bíblica na Etiópia – vizinho de parede da… Somália. Poucos tinham pensado nisso tudo semana passada, antes do “alerta” da ONU. Mas a fome – oh! – já estava lá. E aqui. E ali. A cada seis habitantes da Terra, um passa fome, a maioria dos famintos é de africanos (e asiáticos também). Metade do continente está abaixo da linha da pobreza. A proporção é essa já faz um tempo. “Se ninguém fizer nada” ficará pior. Mas, pra ficar claro: que façam. Que venham as princesas, que mandem o arroz, que cantem as canções. Afinal, é de coração. E vai ajudar de alguma forma: é um pouco mais de dinheiro, é um pouco mais de arroz, é um pouco mais de atenção. Um pouco mais de algodão doce. Imagino que a loirinha do Jeepão deva ter seguido o seu caminho sentindo-se recompensada pelo sorriso do menino, pensando que “se todos no mundo olhassem um pouquinho mais para esse pobres da África, o mundo seria melhor.” Seria, mas não basta “olhar um pouquinho”. É preciso olhar muito, pensar muito, tirar do seu pra ele ter (daí sim) um pouquinho. Mais do que saquinho colorido, eles precisam de impulso, comércio justo, que não se estimule a corrupção, investimento cavalar em educação e saúde. Em uma palavra: oportunidade. A África fica feliz com sorriso e algodão doce. Mas consegue viver sem eles. Não vive é sem farinha pra fazer xima. A mudança virá, mesmo, no dia em que puder pelo menos sonhar em comprá-la sozinho. Eduardo Castro _Tem alguns assuntos que entram em pauta, vão embora, depois voltam… ficam nos rodeando, até que não dá para não falar. O do sr. Bachir é um deles. A história começou há mais de um ano. O gajo em questão, Mohamed Bachir Suleman, foi citado em uma lista divulgada pelos Estados Unidos em junho de 2010 como narcotraficante de grande escala. Cidadão moçambicano, por aqui ele é oficialmente empresário — presidente do grupo MBS — e apoiador da Frelimo.
Bachir negou, claro, qualquer envolvimento com o narcotráfico. O governo moçambicano disse que faria sua própria investigação. Esta semana, a Procuradoria Geral da República de Moçambique informou que, após averiguações, não foram encontrados indícios suficientes da prática de atos que “consubstanciem o tráfico de estupefacientes ou substâncias psicotrópicas pelo referido cidadão”. A embaixada dos EUA em Maputo mantém a posição de que há “evidências suficientes” para considerar o empresário moçambicano Mohamed Bachir Suleman “barão de droga”. Em comunicado, a representação diplomática norte-americana diz que as violações fiscais e aduaneiras encontradas nas atividades do grupo empresarial de Mohamed Bachir Suleman “em muitos casos servem como base para investigações de tráfico de estupefacientes e outros” atos ilegais, de acordo com notícia da agência Lusa, divulgada no blog Moçambique para todos. Enfim, é um diz que diz que não vale a pena entrar no mérito, porque apesar de, nas ruas, todos concordarem com a grande possibilidade da acusação ser verdadeira, provas não há. Mas resolvi entrar na história para contar uma situação inusitada que se criou a partir dessa acusação. O Bachir é dono do Maputo Shopping e do mercado Hiper Maputo que se encontra no mesmo shopping. Quando o governo dos Estados Unidos divulgou seu nome como possível narcotraficante, algumas empresas optaram por não mais ter relacionamento com o camarada, até que a situação se esclarecesse. Em menos de um mês, dois bancos (Millenium bim e Barclays) que tinham agências no shopping, saíram. Além disso, a rede de cartões Visa (única presente no país) também tomou sua posição: tirou as máquinas do Hiper Maputo, impedindo assim que fossem aceitos pagamentos em cartão de crédito ou débito. Quando isso aconteceu, foram afixados avisos no mercado de que, por uma “avaria grave no sistema”, não estava sendo aceito cartão no estabelecimento. Pagamentos só em dinheiro. Todo mundo sabia do que se tratava a avaria grave no sistema. Ficou até ridículo o aviso. Mas fato é que mais de um ano se passou, o aviso da avaria grave continua lá, as pessoas continuam comprando no mercado e não me consta que o sr. Bachir esteja mais pobre ou muito preocupado com as listas que se divulgam por aí com seu nome. Veja mais sobre o caso Bachir no jornal O País e no Moçambique para todos. Sandra Flosi _A propósito da notícia abaixo e como quem não se sente não é filho de boa gente:
“Miguel Relvas reafirma compromisso de RTP como estação da lusofonia “Maputo - O ministro dos Assuntos Parlamentares, Miguel Relvas, reafirmou quinta-feira o compromisso do governo português "na afirmação da RTP como estação da lusofonia", durante uma conferência sobre comunicação social realizada em Maputo. "Este é um trabalho que tem sido fomentado ao longo dos últimos anos. É importante que a afirmação da língua portuguesa como instrumento económico jamais ultrapasse a base da nossa relação, o que a língua portuguesa sempre simbolizou como instrumento cultural" no mundo, disse Miguel Relvas. O ministro falava na conferência "A comunicação social nas relações Portugal-Moçambique", organizada pela RTP e semanário Sol e transmitida em direto pela RTP África. O governante recordou o atual processo de reformulação da RTP e defendeu que a cooperação da estação de televisão pública "deverá estender-se a sectores como a formação e o fomento do empreendedorismo". No plano da informação, disse Miguel Relvas, "a RTP aproveitará de todas as formas as sinergias com a Agência Lusa". Presente no debate, Nuno Morais Sarmento, antigo ministro do PSD com o pelouro da comunicação social pública, propôs maior ousadia, "apesar das dificuldades", na criação "de uma televisão e plataforma digital da lusofonia que não dependa de um ou de outro país". Uma proposta que causou alguma discussão, com intervenientes a questionarem o conceito de lusofonia ou, mesmo, no caso de moçambicanos, a assumirem-se no espaço da "bantufonia". Como o tempo de debate era escasso, Miguel Relvas concluiu a discussão, afirmando que o conceito de lusofonia "é um ponto de partida" e que aceita que "Eça de Queiroz seja brasileiro por que Machado de Assis é português".” Fonte Lusa 9 de Dezembro de 2011. Entre muito convidados e participantes e encontro-me em Moçambique e nesta data sendo” pública e notória” a minha presença em Maputo fui pura e simplesmente “esquecido” pelos promotores e organizadores deste evento. Fica o desafio aos mesmos de encontrarem ao longo de muitos anos a fio qual o português que mais textos tem publicado em Portugal e Moçambique tendo em vista a aproximação dos dois Povos e Países. Bem mas chegar ao desaforo de Camões ter “passado ao lado” desta iniciativa? Aquele que viveu em Sofala e na Ilha de Moçambique um dos expoentes ímpar e de referência da língua portuguesa!?! Desculpem-me o atrevimento, vaidade, indignação, chamem-lhe aquilo que entenderem, o facto é que fui a primeira pessoa singular a ser membro da Câmara de Comércio Portugal Moçambique, com sede em Lisboa, algures em 1985/87, fui o primeiro Cônsul e único Honorário de Moçambique no Porto, onde durante oito anos também concedi graciosamente vistos a jornalistas, pessoas da cultura, do desporto, associações empresarias, organizações religiosas e outros, nunca recusei um visto, nem nunca o fiz, sendo fim de semana ou fora do horário normal de trabalho. Organizei na cidade do Porto em Novembro Dezembro de 1995, com o incondicional apoio de escritores e jornalistas moçambicanos o Iº CICLO DE CONFERÊNCIAS DE ESCRITORES MOÇAMBICANOS DE LINGUA PORTUGUESA, programa que teve no seu encerramento a presença do Senhor Ministro Oldemiro Balói e do Secretáro de Estado dos Negócios Estrangeiros e Cooperação José Lamego. Fui mais tarde presidente da direcção da Associação Portugal Moçambique com sede no Porto. Sou o passageiro frequente mais antigo da TAP no percurso Moçambique Portugal, desde Julho de 1961. TENHAM PACIÊNCIA!!!! Augusto Macedo Pinto _Em Moçambique está em curso uma verdadeira transformação no campo energético, o país possui um potencial de 100 triliões de pés cúbicos de Gás Natural, uma reserva que posiciona Moçambique entre os 10 maiores produtores mundiais.
O potencial energético do país, não é apenas Gás Natural, o Governo prepara-se para desenvolver uma linha eléctrica que ligará Maputo à Tete, permitindo o acesso à electricidade de todo o país. A linha vai permitir uma maior eficiência na geração e na distribuição de electricidade em Moçambique e África Austral, nomeadamente, África do Sul. São diversos os projectos em curso com o intuito de desenvolver Mini-hídricas e Centrais térmicas para fornecer os países vizinhos. Uma das maiores condicionantes no desenvolvimento económico e industrial da África Austral, é precisamente, a falta ou a ineficiente distribuição de energia. O facto, da Energia ser encarada como um sector estratégico, apenas demonstra o correcto posicionamento do país. Uma visão estratégica reforçada pela forte aposta do Governo na produção de bio-combustiveis, um total de 50 mil hectares, e nas energias renováveis, como a energia solar e a energia eólica. O país esta a dar passos para ser um forte produtor energético, penso ser uma aposta consistente, pois irá permitir um salto qualitativo, todo este processo vai gerar transferência de tecnologia e conhecimento, assim como, uma maior atracção de investimento estrangeiro. Portanto, uma via aberta para o desenvolvimento. Se ainda considerarmos os indícios que apontam para a existência de petróleo, Moçambique poderá ter um papel preponderante na sua região de influência. Miguel Amaral _Um grupo de amigos moçambicanos reunidos comigo em amena cavaqueira no Bairro da Manga, na cidade da Beira e Província de Sofala, em Moçambique, após um repasto que teve como ingredientes a farinha de mandioca da Província de Sofala, cebola roxa de Moçambique, louro/loureiro, azeite e bacalhau de Portugal, lembrou-nos, à volta de uns sumos de laranja e manga e cerveja IMPALA de Moçambique, esta feita também de mandioca, mas ainda com a companhia de um ALVARINHO, um ex libris do VINHO VERDE de Portugal, não nos esqueçamos que Portugal é o único produtor mundial deste tipo de néctar, porque não propor este prato como PRATO OFICIAL DA CPLP?
Em todos os Países da CPLP há parte dos ingredientes que na sua totalidade não se produzem só num único País, este factor de união, quando provarem verão que poucas dúvidas restarão, este também poderá ser um caminho. No Brasil o quarto mercado mundial de cerveja temos a BRAHMA, em Angola a CUCA, mas a mandioca que nos une só será produzida: Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe e Timor Leste. Muitas formas de a confeccionar encontramos em vários Países da CPLP e com diversas designações. Nestes momentos não me venham com a crise. Pois no final para aqueles e aquelas que forem além do que deviam, falemos de excessos, há águas das Pedras Salgadas, de Vumba, da Namaacha, do Vimeiro, Caramulo e tantas outras. O chá de Príncipe, Balakate, Cidreira ou Cacana porque não? De facto a CPLP, também tem destas coisas. Mas podemos ir mais longe e ficar por umas boas aguardentes velhas, sejam de vinho verde ou maduro, não falarei em marcas, mas as outras bebidas similares de outros Estados não CPLP, por aqui nada têm a nos ensinar. E antes do repasto porque não também umas caipirinhas, dirão os nossos amigos brasileiros e não só? Bem, mas a receita? Falei dos ingredientes, mas nada de receita. Pois o segredo é esse mesmo, estou disponível para um desafio CPLP e verão que não se arrependem, sejam, 10, 100, 1000 ou 10.000 participantes, tudo dependerá tão somente da quantidade dos ingredientes, das condições da cozinha, o cozinheiro eu conheço-o, sei que estará disponível, aqui fica o desafio, à CPLP, CLARO !!! Augusto Macedo Pinto _Foi sensivelmente há um mês, a Galp Energia anunciou a descoberta de dois poços de gás natural em Moçambique. Tratam-se de dois poços com uma capacidade exploração assinaláveis, da ordem de 215 mil milhões e 430 mil milhões de pés cúbicos de gás natural, perfazendo um total 645 mil milhões de pés cúbicos de gás natural. O destino da exploração será o mercado asiático. Também, já tínhamos assinalado aqui, que não há muito tempo foram descobertas importantes jazidas de minério no país, um potencial, a confirmar-se, poderia transformar Moçambique num dos maiores exportadores desta matéria-prima.
Parece evidente que Moçambique tem potencial, também é evidente que apenas uma pequena minoria das empresas portuguesas sabe trabalhar bem estes mercados. A maioria das empresas portuguesas revela desconhecimento, normalmente, chegam tarde ao mercado. Estes mercados carecem de sofisticação, as empresas que investem não o fazem com o intuito de ganhar competitividade directamente nestes mercados, nem deveria ser esse o objectivo. O fundamental, para quem investe nestes mercados é ganhar dimensão e escala, com o intuito de poderem ser competitivas com empresas de outros mercados onde a competição é real e a dimensão pode ser um factor determinante. Os empresários portugueses chegam sempre tarde, talvez, por desconhecimento, por aversão ou por falta de meios. Quando decidem avançar as melhores oportunidades já foram detectadas e aproveitadas por empresários sul-africanos, asiáticos, brasileiros ou indianos. Portugal é um país pequeno, deve-se abrir ao mundo, aproveitar as suas vantagens competitivas, nomeadamente, a sua língua. Estes mercados não serão a nossa salvação, mas podem contribuir para criar uma dinâmica positiva na abordagem de novos mercados e reduzir a nossa dependência em relação ao mercado europeu. São mercados que bem trabalhados podem proporcionar-nos gratas oportunidades e abrir portas. Miguel Amaral |