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LISBOA
Os recentes acontecimentos violentos na Inglaterra têm acirrado o debate sobre criminalidade e mal-estar social. Não defendo a criminalidade nem a violência como solução para qualquer mal. Nem político, nem económico, nem social. Nem por grupos de qualquer faixa etária, nem por nações. Mas, como muitas outras pessoas debruçadas sobre o problema, penso que o actual mal-estar social é um facto que tem sido muito ignorado pelos políticos e mesmo pelas organizações que têm como propósito na vida cuidar desse mal-estar.
O site http://networkedblogs.com/lOakg publicou um artigo entitulado The Pursuit of Happiness: Can We Have an Economy of Well-Being? escrito por Carol Graham, onde a autora aborda o tópico da felicidade, como indicador do bem-estar social, e levanta a pergunta de como integrar o conceito de felicidade e de bem-estar social nas agendas políticas dos países e nas estatísticas económicas. A felicidade é um conceito difícil de definir porque está associado a factores económicos, étnicos, culturais, entre outros, e em grande parte é determinado pelo conceito que a felicidade é um sentimento de capacidade de tirar partido das oportunidades existentes permitindo aos cidadãos conduzirem uma vida que faça sentido, uma vida com significado, como costumamos dizer. É mais fácil medir percentagens de mortalidade, de morbidez, de criminalidade, de escolaridade, de despesas estatais, de crescimento económico, de importações e exportações e por isso as estatísticas que se publicam seguiram, ao longo dos anos, o caminho mais fácil de medir o estado do país, por meio destas, desligando dessas estatísticas o bem-estar das populações, bem-estar esse que, em grande parte contribui para os números obtidos nas estatísticas acima mencionadas. E a pergunta que Carol Graham deixa de pé é – como avaliar a felicidade social para que possa ser usada na governação de uma nação? Tenho acompanhado o problema da felicidade, do bem-estar social, ao longo da minha carreira profissional. Não só como cidadão, mas também como dirigente de organizações e equipas de profissionais com o fim de atingir os objectivos da empresa, sem criar grandes infelicidades nas vidas dos participantes. Equilíbrio este que aprendi ser o melhor método de viver uma vida profissional e atingir os objectivos de produtividade exigido pelos donos das empresas. Não tenho porém notado que tenha havido grande esforço em dividir esse conceito complexo que é a felicidade, o bem-estar social, em partes que se possam definir e até medir. A grande tendência que tenho notado é de tentar chegar a uma definição única, abrangente, e sem dúvida complexa, que não será fácil de por em termos práticos. Mas porquê? Porque não partir da premissa que a felicidade é um sentimento de capacidade de tirar partido das oportunidades, permitindo que os cidadãos conduzam as suas vidas com sentido, com significado. Sendo assim, para que é que estamos a tentar reinventar a roda, como se costuma dizer, e porque não partir de um modelo já conhecido, a Pirâmide de Maslow, de que já se falou há pouco? Porque não fazer uma afirmação talvez chocante para muitos, e dizer que a capacidade de satisfazer as nossas necessidades básicas (como Maslow as define) constitui a felicidade? Nem que seja para iniciar a conversa num novo plano. Acho que esta abertura não é assim tão estranha quanto possa parecer à primeira vista. Vejamos. Se eu estiver com fome, com medo, sem auto-estima, sem afinidades com os meus pares ou queridos, qualquer um destes factores vai reduzir a minha felicidade, e o meu gosto pela vida. Mas que efeito então poderá ter tudo isto na gestão de um país através das suas políticas governamentais? Vamos supor que o preço dos produtos alimentícios sobe (os impostos subiram e já não se cultiva aqui, vem de fora) ao ponto em que eu tenho de fazer sacrifícios no meu cesto de compras semanal... o meu bem-estar baixa. Ou que as pessoas sentem que não têm oportunidades (baixa em qualidade na educação) para obter um emprego (desemprego originado por decisões fiscais que facilitaram a fuga de fundos e postos de trabalho) e que essas pessoas não são felizes ao ponto de praticarem resistência passiva (absentismo, originando perda de productividade) ou mesmo violência física (requerendo mais despesas em polícia, e segurança nacional... em regra reduzindo despesas com as escolas e os serviços médicos). A regra actual é que isto tudo é medido em termos de índices de consumo (crescimento económico), sucesso escolar, productividade, dívida estatal, dívida externa, despesas em segurança (carros blindados) e defesa nacional (mais uns submarinos). Mas eu pergunto, não estão estes factores todos actuando de modo negativo na felicidade, no bem-estar dos nossos amigos, colegas, familiares? Se não está, então o que é que está? Este raciocínio pode ser aplicado a todas as camadas da Pirâmide de Maslow de modo a criar um conceito simples e claro (todos os cidadãos necessitarão de compreender o conceito) de felicidade, e bem-estar social, e um conjunto de elos de ligação entre as estatísticas económicas, dívidas externas, e as decisões políticas, fiscais e económicas que por sua vez podem ser traduzidas em acção política e governamental, e finalmente medidas em termos de bem-social, de felicidade. É hora de tomarmos este rumo, e eu acredito que não é complicado como alguns pensadores pretendem que seja. E porque estes aspectos todos se influenciam de forma circular e contínua, uns alimentando, positiva ou vegativamente, os outros, seremos um povo mais feliz, mais criativo, mais rico e menos ausente das nossas responsabilidades cívicas. Fernando Aidos
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