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Brasília
_Os economistas necessitam pesquisar, pois pouco sabem a respeito, o que é chamado por alguns de “Setor Terciário” – o que já demonstraria seu pouco caso sobre o Setor de Serviços, como fosse composto por atividades residuais em relação às agrícolas e industriais. Talvez essa postura seja devido a prolongamento do pensamento econômico do século XVIII, quando o Quadro Econômico dos Fisiocratas, elaborado por Quesnay, colocava o setor primário como o único produtivo. O mundo rodou, o pensamento econômico girou, para ficar anacrônico com o mesmo raciocínio de que produção, de fato, é apenas a material?! Por que não se pode falar em “servindústria” assim como existe “agroindústria”?
Os serviços sustentam crescimento do PIB. Amparado pela força do mercado de trabalho, o setor de serviços passou a puxar o crescimento da atividade econômica nos últimos anos. Com peso de mais de 67% no Produto Interno Bruto (PIB), o segmento mostra dinamismo em conjuntura em que a indústria brasileira padece com a concorrência dos produtos importados e a dificuldade de exportar. Os maiores destaques têm sido os segmentos de serviços de informação (como telefonia e informática) e o de intermediação financeira, seguros e previdência complementar. Qual é o efeito encadeamento desses segmentos na indústria? Quanto usam de equipamentos industriais? Sabe-se, por exemplo, que a “indústria de entretenimento” e a “indústria financeira”, no Brasil, detém a fronteira tecnológica. Para isso, investem, anualmente, bilhões de reais em máquinas e equipamentos. Como repercutem esses investimentos em uma Matriz de Insumo-Produto, ou seja, em efeitos intersetoriais “para trás” e “para frente”? Sustentam quanto da renda? Não se sabe e não se pesquisa. O desemprego baixíssimo e o rendimento em alta impulsionam a demanda por serviços, que praticamente não sofrem com a competição estrangeira, hoje favorecida pela moeda nacional apreciada, como se vê na indústria. Há mudança no perfil da demanda, nos últimos anos, com forte aumento do salário real, que sustenta a expansão dos serviços. Há alteração estrutural que impulsiona os serviços. Há elevação na renda per capita nos grandes centros urbanos, em cenário de desemprego baixo. Isso eleva a demanda por serviços de informação como telefonia e banda larga, assim como a procura por mais crédito e por produtos como Planos de Previdência Complementar. Também ganham alento os chamados outros serviços, que incluem atividades como os serviços prestados às empresas e às famílias, restaurantes, hotéis e clubes. As pessoas viajam mais e comem mais fora de casa. Essa categoria representa quase 15% do valor adicionado da economia, o segundo item do grupo de serviços com maior peso. O primeiro é administração, saúde e educação, serviços predominantemente públicos, com 16,5%. Comércio vem em terceiro, com quase 12%. Ao mesmo tempo em que os serviços tomaram fôlego, a indústria entrou em conjuntura desfavorável. A demanda externa por produtos manufaturados caiu, com o baixo crescimento nos países desenvolvidos, e as importações passaram a incomodar ainda mais, em quadro de câmbio apreciado e em que o Brasil passou a ser um dos países que mais crescem. Evidentemente, todos os non-tradables sectors, isto é, produtores de serviços não transacionáveis no mercado externo dependem, exclusivamente, do mercado interno. Mas se eles são “não comerciais” apenas no comércio exterior, o que se tem de verificar é o andamento dos determinantes internos do crescimento da renda. Eles predominam sobre os externos. Por exemplo, componentes da renda pessoal como salários, dividendos, juros, alugueis, e mesmo a concessão de crédito pessoal têm ainda certo fôlego de sustentar o crescimento. Serão abortados por política econômica recessiva? O setor de serviços ganha importância na economia brasileira em estágio em que o país ainda tem nível médio de renda, ao mesmo tempo em que a indústria perde espaço. Isso também é realidade nos Estados Unidos, mas ele, além de ter nível alto de renda per capita, transferiu boa parte de sua indústria de transformação usuária de mão de obra barata para a Ásia. O desenvolvimento capitalista é desigual e combinado. O capitalismo tardio combina atraso e progresso ao tirar vantagem do seu atraso histórico. Avança, diretamente, para a vanguarda da fronteira tecnológica, em alguns segmentos da sociedade do conhecimento. Salta “etapas” de maneira descontínua. Daí a importância de retomar o debate entre economistas estruturalistas: será que as dificuldades que passaram a afetar com mais força a indústria no pós-crise se devem a determinada conjuntura adversa, mas que não durará para sempre? O Brasil passou a crescer mais que o resto do mundo, o que tornou o mercado brasileiro mais atraente para quem produz manufaturados, em momento em que as economias desenvolvidas vivem passagem histórica muito difícil. Além desse diferencial de crescimento, há elevado diferencial de juros, que atrai mais capital e, com isso, valoriza a moeda nacional, dificultando os negócios de quem exporta ou concorre com importados. Essa situação, ainda que não deva se resolver logo, será que vai se eternizar? Tanto a diferença de crescimento, quanto a de juros, ambas não voltarão a diminuir, melhorando as condições da indústria brasileira? Se esse cenário não se reverter, haverá sim motivos para preocupação. Economistas supõem, sem conhecer bem o setor de serviços, que a indústria é o setor em que há mais ganhos de produtividade, fator fundamental para a determinação da capacidade de crescimento em longo prazo. Entretanto, abriu-se para o País uma “janela de oportunidade histórica” com sua agroindústria, sua indústria de construção civil, sua indústria extrativa mineral, sua indústria de petróleo, seu bônus demográfico, seu mercado interno, seu servindústria. Seremos sempre “viúvas da indústria de transformação”, curtindo um “luto desenvolvimentista”? Fernando Nogueira da Costa
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_Dezembro chegou, Natal se aproxima e o ano se encaminha para o final.Como em todo final de ano, é hora de um balanço do que se passou e do que está por vir. Na área econômica, o ano foi extremamente agitado. Crises, greves, protestos, desaceleração econômica etc. Vamos separar os acontecimentos por tópicos.
1. Preços de commodities agrícolas. Os preços das commodities agrícolas que estavam muito valorizados no ano de 2010, continuaram com o mesmo comportamento em 2011 e a tendência é de que isto não sofra mudanças em 2012. Provavelmente em 2012 não haverá deflação dealimentos, mas sim uma estabilidade no patamar elevado que se encontra hoje. Uma das poucas commodities que está com preço depreciado é o arroz e a tendência é que esta depreciação se mantenha em 2012, para infelicidade dos produtos catarinenses. 2. Álcool combustível. Justamente pelo tratado no tópico anterior, o preço do açúcar está com tendência de manutenção de preços elevados e, felizmente ou não, o açúcar de cana é o mais competitivo em termos de produtividade e, como o insumo para o açúcar e o álcool são os mesmos (cana), os usineiros continuarão a produzir açúcar em detrimento do álcool combustível, ou seja, os carros flex não verão álcool por um bom tempo, visto que, álcool a R$ 2,49 o litro (média em Blumenau-SC) não é um preço convidativo. A única possibilidade de alteração deste quadro é uma intervenção governamental, seja reduzindo a carga tributária do álcool ou aumentando a carga tributária do açúcar (coisa que acho mais provável, por razões óbvias). 3. Crise europeia. Talvez o fato econômico mais marcante neste ano de 2011. Talvez pela primeira vez desde a reconstrução do pós-guerra, vemos a Europa em situação extremamente frágil. Para se ter uma ideia da fragilidade econômica, a União Europeia suplica por dinheiro do FMI e pede, encarecidamente, que a China, o Brasil e os demais emergentes comprem seus títulos (emprestem dinheiro a eles). Se um brasileiro entrasse em coma nos anos 80 e acordasse apenas hoje, juro que não acreditaria e pensaria que, efetivamente, os maias estavam certos e que o fim do mundo realmente se aproxima. O que espero para 2012 em relação a isto? Infelizmente sou pessimista neste aspecto. Não espero uma recuperação econômica, ao contrário, vejo o BCE comprando mais títulos podres dos estados membros via mercado secundário e a recessão e o desemprego, que em alguns países chega a mais de 20%, aumentando e colocando em risco a sobrevivência do euro no médio prazo. E quanto ao Brasil? Se a crise europeia se agravar, é lógico que seremos atingidos, assim como o mundo todo o será. O que deve ser feito então é privilegiar o mercado interno, reduzir encargos sobre a produção industrial e não deixar o consumo cair, pois, menos consumo, mais desemprego e menos renda. Jorge Eduardo Scarpin _Na Guerra da Tríplice Aliança (1865-1870), Argentina, Brasil e Uruguai uniram forças contra o Paraguai, vizinho sem acesso ao mar e, comparativamente, com território e população muito menores. Os paraguaios lutaram até que a população foi reduzida ali em 2/3 de um total que antes da Guerra era estimado em 450 mil habitantes. Foi uma catastrófica dizimação de homens, apenas um restou vivo para cada quatro ou cinco mulheres, e a virtual desintegração do Estado, segundo Edgar J. Dosman conta na biografia Raul Prebisch (1901-1986): A Construção da América Latina e do Terceiro Mundo, lançada recentemente.
No final da Guerra, soldados mirins e mulheres paraguaias haviam lutado em Cerro Corá com varas e pedras contra regimentos que usavam espingardas, canhões e metralhadoras Gatling de último tipo para arrasar destacamentos inteiros formados por garotos. No Tratado de Paz imposto ao Paraguai, a Argentina e o Brasil exigiram o equivalente a 10 bilhões de pesos em indemnização, compromissos absurdos que foram cancelados pelos dois países em 1943, setenta anos após o conflito mais catastrófico na América Latina pós-independência. Os livros de História do ensino básico culpam o ditador paraguaio Francisco Solano López por declarar uma guerra a priori perdida contra a Tríplice Aliança. Quaisquer que fossem as origens do conflito, três vizinhos poderosos e de população branca hegemônica, mesmo com a manutenção da escravidão no Brasil até 1888, travaram uma guerra de extermínio contra uma sociedade indígena que resistiu literalmente até o último combatente. Porém, o Paraguai se reconstruiu após a catástrofe. Famílias de várias mulheres com um só homem aos poucos refizeram a população masculina. Disputas entre os vencedores e a subsequente decisão arbitral do presidente dos Estados Unidos deixaram o Paraguai com a metade de seu tamanho inicial. A volta à normalidade ocorreu gradualmente, mas, quando a população retornou ao nível de 1865, a Grande Depressão pós 1929 atingiu o País. Depois, em 9 de setembro de 1932, a Bolívia atacou do leste, com um exército muito maior e mais bem equipado, para tirar do Paraguai a região do Chaco, supostamente rica em petróleo, iniciando a segunda guerra mais sangrenta da história latino-americana. Novamente, o Paraguai lutou sozinho pela sobrevivência, dessa vez conseguindo vencer os invasores com uma campanha brilhante. A poeira semidesértica do Chaco entupiu as armas das tropas bolivianas, enquanto o calor, a seca e as distâncias dificultaram a manutenção de uma linha de fornecimento de suprimentos. Tropas irregulares paraguaias reviveram o espírito de luta da guerra de 1865-1870, enfrentando pelotões bolivianos com facas e, por fim, rechaçando-os de uma das regiões mais hostis do mundo. A guerra terminou em 12 de junho de 1935, deixando o Paraguai com fronteiras que circundavam ¾ do Chaco. O País tinha sofrido mais de 35 mil baixas, 10% da população, com um número ainda maior de feridos. Depois, constatou-se que não havia petróleo na região. Atualmente, Lucas Ferraz (Folha de S. Paulo, 23/08/11) anuncia que, impulsionado pelos impressionantes 15% de crescimento do ano passado, o Paraguai se tornou um polo de empresas maquiladoras na América do Sul com a adoção de sistema que faz a aliança de imposto mínimo e mão de obra barata. O sistema chamado maquila, implementado há dez anos e que atingiu pico de crescimento no ano passado, se desenvolve com o bom crescimento da economia paraguaia e tem atraído inúmeras companhias do Brasil, assim como agiu o México em relação aos Estados Unidos. Já são pelo menos 11 empresas brasileiras ou com capital nacional em atuação no país vizinho. Desde o grupo grande, possuidor de marca bem conhecida, até pequenas empresas instalaram-se no Paraguai e conseguiram reduzir custos. Inspirado no sistema de maquilas do México, que adotou o modelo em meados da década de 90 na esteira da crise econômica que viveu naqueles anos, o sistema paraguaio isenta as empresas de taxas para importar matérias-primas. Toda a produção finalizada no Paraguai deve ser exportada, com exceção de 10%, que podem circular no mercado paraguaio. Essas são as condições do governo para uma empresa ser maquiladora. De imposto é cobrada uma taxa geral de somente 1%. O sistema tem atraído muitas empresas, mas no Brasil “pegou mal”, inclusive o nome. Mas as empresas brasileiras que trabalham com a maquila estão satisfeitas com a redução dos custos. Implementado em 2001, o regime de maquila começou naquele ano com sete empresas, que exportavam o equivalente a US$ 1,2 milhão. No ano passado as cifras bateram recorde: US$ 102 milhões, com 49 empresas registradas no Ministério da Indústria do Paraguai. Metade dos bens exportados vai para países do Mercosul, a maioria para o Brasil. O regime de maquilas permite que uma companhia brasileira contrate uma empresa maquiladora paraguaia, que irá produzir com sua marca e depois exportar para onde a matriz determinar. Segundo informações divulgadas pela imprensa, empresas conseguiram reduzir custos com produção em até 30%, se comparado aos valores do Brasil. A maquila é altamente benéfica para formar cadeias produtivas com planejamento tributário, tendo como foco principalmente o Mercosul. Outro benefício do Paraguai é o custo trabalhista. Os encargos que incidem sobre o salário de um funcionário são de 30% (incluindo férias, 13º e o equivalente ao INSS), enquanto no Brasil o índice chega a 110%. O economista Luiz Carlos Prado utiliza o exemplo chinês de terceirizar para os vizinhos asiáticos a produção de bens industriais mais intensivos em mão de obra, para propor que o Brasil faça o mesmo na América do Sul com países como Paraguai e Bolívia, liderando uma efetiva integração comercial. Ele se pergunta: até que ponto será viável o País adotar uma política industrial tentando integrar os próprios vizinhos? Se não se produz aqui alguns produtos a preços competitivos com os dos chineses, por que não produzir no Paraguai ou na Bolívia? Fernando Nogueira da Costa _Leio no ESTADÃO de hoje, um texto micro e macro sobre a economia presidencial.
Preocupada com o impacto da crise mundial no Brasil, a presidente Dilma Rousseff lê todo dia, religiosamente, dois boletins econômicos: um de manhã e outro à tarde. Os papers são preparados pelo Ministério da Fazenda e contêm dados sobre câmbio, taxa de juros, preço de commodities e risco país. Dilma recebe as análises por e-mail criptografado e acompanha os cenários em seu iPad. Nessas ocasiões, não é raro ela passar a mão no telefone e cobrar mais detalhes do ministro da Fazenda, Guido Mantega. Vira e mexe "Guidinho", como é chamado pela presidente, tem de correr ao Palácio do Planalto para reuniões não agendadas. Depois de cruzar informações de todos os cantos, Dilma chegou a uma conclusão: os primeiros três meses de 2012 vão caminhar "devagar". A partir do segundo trimestre, porém, a economia brasileira começará a reagir, na esteira do aumento do salário mínimo, do corte de juros e das desonerações de impostos para setores estratégicos. A equipe econômica estima que, mesmo com o abalo internacional, o crescimento pode chegar a 4,5% ou até 5%, no ano que vem, se houver investimento privado. É isso o que Dilma tem dito em conversas reservadas com empresários, como Josué Gomes da Silva, da Coteminas; Benjamin Steinbruch, da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), e Jorge Gerdau, coordenador da Câmara de Políticas de Gestão, Desempenho e Competitividade do governo. Banqueiros do porte de Roberto Setúbal, do Itaú Unibanco, também integram o time de interlocutores da presidente. Embora tenha estilo diferente, Dilma mantém alguns hábitos do antecessor e padrinho político Luiz Inácio Lula da Silva. Gosta, por exemplo, de ouvir economistas de fora do governo, como Otaviano Canuto, vice-presidente do Banco Mundial para Redução da Pobreza e Gerenciamento Econômico, Delfim Netto e Luiz Gonzaga Belluzzo. "A locomotiva do governo Dilma é a economia, já que as crises políticas são uma constante. Sob nenhuma hipótese ela vai deixar isso fazer água", resumiu um auxiliar da presidente. Para enfrentar a turbulência, Dilma decidiu fortalecer a economia doméstica e turbinar os investimentos. Ela está convencida de que os juros podem cair até chegar a 9% ao ano, por volta de maio de 2012. Atualmente, ela tem três obsessões: acelerar o crescimento, fazer a inflação convergir para 4,5%, que é o centro da meta, e monitorar a taxa de câmbio. O governo trabalha com um cenário pessimista para a economia mundial no ano que vem. Não é só: acredita que problemas políticos na Europa e nos EUA podem agravar o quadro, com consequências a longo prazo. Apesar das incertezas, Dilma avalia que já tomou as medidas necessárias para amortecer os efeitos da crise, ao menos por enquanto. A questão, agora, é apenas de calibragem. Depois da queda de seis ministros - cinco dos quais sob suspeita de corrupção - e com uma reforma da equipe prevista para o início de 2012, a presidente faz de tudo para mostrar que o Brasil pode escapar da crise sem sobressaltos. João Melo _Estamos vendo nas últimas semanas uma explosão de protestos pela Europa, bem como governos enfrentando dificuldades para vender seus títulos soberanos e algumas nações quase em risco de calote. Este tema parece complexo e temos a tendência de culpar os bancos ou o sistema financeiro por todas as crises do sistema capitalista. Entretanto, o tema é mais simples do que aparenta e, pelo menos nesta crise, os bancos são apenas uma parte dos culpados.
A crise fica mais fácil de ser compreendida com um exemplo básico de uma pessoa, que chamaremos de José e será colocado entre parênteses o paralelo com a crise atual. José trabalha e tem uma renda mensal de R$ 5.000,00. Porém, ele e sua família gastam R$ 5.500,00 por mês, além de uma ajuda mensal aos parentes no valor de R$ 2.500,00 por mês, totalizando um gasto mensal de R$ 8.000,00 (descontrole fiscal). Como José tem um bom crédito na praça, consegue facilmente empréstimos bancários no valor de R$ 3.000,00 mensais para cobrir o rombo nas suas despesas. Esta é uma boa alternativa para manter seu padrão de vida e manter seus parentes satisfeitos com a renda transferida mensalmente a eles (aumento da dívida). Entretanto, alguns anos atrás, diversas outras pessoas resolveram não pagar suas dívidas e, embora José não tivesse nada a ver diretamente com o fato, os bancos passaram a ser mais cautelosos na hora de fornecer créditos para todo o sistema financeiro (crise de 2008). Agora, imaginem que José, depois de tanto pegar dinheiro emprestado no banco, tenha uma dívida superior ao que ele consegue produzir em um ano de trabalho (PIB), algo em torno de R$ 70.000,00 para quem fatura apenas R$ 5.000,00. Será que os bancos passarão a olhar para José como possível cliente com risco de calote? Provavelmente sim e, quando o banco percebe isto, a taxa de juros aumenta, pois como há um risco maior de não pagamento, o juro é mais alto para compensar eventual calote, e também o prazo para pagamento é mais curto, visto que não há garantia de pagamento no longo prazo (aumento da taxa de juros da rolagem dos títulos soberanos, que são os títulos que os Estados vendem aos bancos para captar dinheiro). Neste caso, José só tem uma alternativa, cortar gastos. E este corte de gastos deve ser feito em duas frentes. A primeira é reduzindo seu padrão de vida, gastando menos, por exemplo, com sua educação, saúde e segurança (corte de gastos públicos). Já a segunda é reduzindo o valor pago aos parentes (redução de salários de funcionalismo público, redução de aposentadorias e aumento da idade para se aposentar). Agora, analisando friamente, será que José, sua família e seus parentes que são sustentados por ele ficarão contentes com estas medidas ou protestarão contra este corte de gastos, dando a alternativa de simplesmente dar calote nos bancos como medida mais apropriada? É exatamente este o motivo pelos protestos em toda a Europa, ou seja, protestos econômicos e não políticos. Em tempo, não acho os bancos santos ou livre de qualquer parcela de culpa na crise. Entretanto, a maior culpa dos bancos foi de não ter cortado o crédito para os países perdulários antes, esperando até o último minuto para isto. Jorge Eduardo Scarpin _Uma nova era cultural foi instalada no mundo, seguindo as manifestações da contracultura americana e europeia na década de 60. O “conflito de gerações” camuflava, inicialmente, um choque cultural mais profundo contra o conservadorismo. Os adversários dos jovens eram todos os reacionários que reagiam contra a evolução social.
A nova concepção filosófica, nascida da contracultura dos anos 60, pressupunha que a condição humana era fundada pela negação da herança natural. A civilização evoluía ao se opor às forças cegas da natureza. Socialmente, nada seria mais parecido com essa livre-natureza do que o livre-mercado. Em um novo mundo civilizado, não haveria mais a necessidade de se dominar pelo pensamento que a essência humana era essencialmente egoísta e imutável. O instinto de sobrevivência (inclusive planetária) poderia predominar, socialmente, sobre os outros instintos primários. Essas duas linhas de pensamento, uma em que predominava o instinto de competição, outra em que dominava o instinto de proteção, possuíam contrastes não só de ideias, mas também de interesses econômicos e de prioridades a respeito da direção a ser seguida pela sociedade. Mas a ideia de que ela era separada por uma ampla linha divisória maniqueísta ignorava o fato de que diversas pessoas ultrapassaram essa linha, de maneira desigual, em níveis diferentes. O conflito de interesses não era, simplesmente, biunívoco, senão essa estrutura social teria sido destruída. No final do milênio, a nova cultura passou a reconhecer o insucesso da tentativa de exterminar o oponente classista, em uma sociedade antagônica. Portanto, construir “novo mundo”, unido pelo instinto de sobrevivência, ou melhor, pela consciência ecológica, seria realização possível – e necessária. Esse pacto social passaria a ser o sonho (real), a alternativa (possível) e a utopia (necessária) no novo milênio. A imaginação no poder significaria construir uma sociedade ideal, fundamentada em leis justas e em instituições político-econômicas verdadeiramente comprometidas com o bem-estar da coletividade, inclusive na sua relação com o meio ambiente. Não seria mais um projeto de natureza irrealizável, uma ideia generosa, porém impraticável – “sonhática” e não pragmática. Por ser produto da imaginação, não significaria ter, necessariamente, ausência de consistência ou fundamento real. Essa ficção não seria ilusão, desde que atendesse à necessidade de construção real. Esse modelo idealizado de sociedade foi concebido como crítica à organização social (e ao poder corporativo) existente. Porém, seria inexequível, se não estivesse vinculado à defesa de condições ambientais (naturais e humanas) saudáveis, na realidade concreta. Nasceu então o “movimento ecologista” (ou “ambientalista”) como um projeto alternativo de organização social, capaz de indicar potencialidades realizáveis e concretas, em determinada ordem política constituída, contribuindo desta maneira para sua transformação. Nesse caldo da contracultura, surgiu na Suécia, em 1968, a ideia então vanguardista de fazer uma conferência internacional sobre o meio ambiente. Ela foi efetivamente realizada em Estocolmo, em 1972, ou seja, há quase quarenta anos. Foi pactuado, com a então denominada Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, o “compromisso ecológico” assumido pela geração de 70 e as posteriores. Não por acaso, a Conferência foi realizada na Suécia, que havia sofrido sérios danos em seus lagos, em consequência de chuvas ácidas resultantes da forte poluição atmosférica na Europa Ocidental. A longa história política democrática na Suécia também a justificava. Ela ensejou não só uma melhor qualidade de vida, mas uma cidadania mais avançada, naquele país. Precocemente, em 1917, ministério de coalizão entre liberais e social-democratas assumiu o poder e iniciou reformas sociais, como a redução da jornada de trabalho para oito horas diárias e a extensão do sufrágio universal às mulheres. O Partido Trabalhista Social Democrático permaneceu no governo, quase ininterruptamente, de 1932 a 1976. O modelo sueco era econômico e político, mas também, e principalmente, societário. Era modelo de ética social, isto é, a ética da absoluta transparência das relações sociais e o ideal da comunicação perfeita. A distinção entre privado e público, na Suécia, era exemplar: havia desvendamento do secreto, desprivatização, gestão pública do privado. O que em outros lugares seria considerado “violação do espaço privado individual” lá era conquista social inarredável. O modelo sueco tinha pretensão de universalidade (pacifismo, ajuda ao Terceiro Mundo, solidariedade social, respeito pelos direitos humanos), no que tem como fundamento ideológico o consenso e a transparência. Ele talvez constituísse a espécie mais evoluída de representação antecipada de nova ordem social. A Conferência de Estocolmo foi o evento que colocou o meio ambiente no foco das preocupações internacionais. Desde então, o modo de vida planetário, organizado através de economia de mercado, onde predominam apenas os interesses das grandes corporações transnacionais, virou alvo de avaliação crítica. Seu poder de destruição do meio ambiente passou a sofrer constantes denúncias de cientistas e cidadãos preocupados com a vida humana. Ecologia Política não trata apenas da relação dos seres humanos com o meio ambiente, mas também entre si, p.ex., temas como igualdade de gêneros, diversidade sexual ou homofobia, política afirmativa contra o racismo, etc., entram em pauta. A elevação desse tipo de consciência ecológica dos membros dessas corporações leva às mudanças no sentido da adoção de auto-regulação, antes que legislações draconianas sejam impostas. A gestão empresarial que tenha como referência apenas os interesses dos acionistas (shareholders) revela-se insuficiente no novo contexto. Ele requer gestão balizada pelos interesses e contribuições de conjunto maior de partes interessadas (stakeholders), isto é, trabalhadores, consumidores, cidadãos. A busca de excelência por empresas necessita assumir como objetivos a qualidade nas relações interpessoais internas e a sustentabilidade econômica, social e ambiental. Fernando Nogueira da Costa _É verdade que estamos passando por um momento de turbulências populares em todo o mundo. Alguns cidadãos têm tido mais identidade e tomado as ruas na defesa de seus ideais, ideologias, princípios ou qualquer nomenclatura semelhante. Isso corre os quatro cantos, da “Primavera Árabe” ao “Occupy Wall Street”, passeando desde as mais belas manifestações, como a que levou à queda de Hosni Mubarak no Egito; até as mais torpes, como a ocupação da USP no Brasil.
Um ponto comum nessa recente onda é a função exercida nas manifestações pelas redes sociais, em especial o Facebook. Uma tecnologia moderna que vem cumprindo missões que, a priori, não compunham sua natureza, funções políticas e mobilizadoras. Devendo-se sempre ressaltar que, apesar de uma parte da mídia dizer o contrário, as redes sociais são apenas colaboradoras dessa mobilização, e não responsáveis por ela. Mas apesar de tamanhas semelhanças, essa onda de movimentos e manifestações que vem correndo o mundo recentemente merece ser dividida em subgrupos que remetem à seu caráter, tal como a suas demandas e objetivos. Mais especificamente em dois grandes subgrupos: o dos movimentos puramente democráticos e os dos movimentos puramente ideológicos. Um bom exemplo de movimento puramente democrático é o caso já citado do Egito, tanto as manifestações que tiraram Hosni Mubarak do poder em fevereiro deste ano, quanto as que pretendem agora contestam a Junta Militar que o substituiu na finalidade de reconstruir uma democracia. O que diferencia esses movimentos dos puramente ideológicos é, com o perdão do pleonasmo, a falta de monopólios ideológicos internos. Explico: diferente do que se observa nas lutas sindicais, por exemplo, no Egito não há soberanamente a bandeira de um partido, de um viés político; mas sim uma unidade de diversas mentes e opiniões em torno de um bem comum, a democracia. Isso é o que garante o caráter mais impessoal e, consequentemente, mantém a credibilidade desses movimentos sob os mais diversos pontos de vista (à exceção daqueles mais conservadores e os ligados ao governo antigo). Esse caráter impessoal é mais difícil de ser encontrado nos movimentos puramente ideológicos, porém não é impossível. Vamos então aos movimentos puramente ideológicos. Um caso claro é o “Occupy Wall Street”, ou trazendo para o nosso cotidiano, o “Ocupa Rio”, cópia do movimento americano que levou algumas dezenas de jovens a acamparem na Cinelândia em protesto contra a atual conjuntura, resumindo, rebeldia institucionalizada. Diferente da “Primavera Árabe”, esses movimentos de ocupação em protesto contra tudo e todos, são monopolizados por linhas de pensamento e partidos, no caso do Brasil comunistas e anarquistas, além de PSOL, PSTU, PCO e outros nanicos vermelhos. Nisso consiste um pouco da falta de credibilidade que o “Ocupa Rio”, por exemplo, tem. Na maioria das vezes os movimentos ideológicos são promovidos e financiados pela esquerda. Em nossa história eles são mais que presentes, que o diga a Coluna Prestes, o MST, os próprios sindicatos e mais recentemente as Marchas da Maconha e a Ocupação da USP. Essa explanação teve unicamente o objetivo de impedir que seja feita qualquer comparação entre a “Primavera Árabe” e o “Occupy Wall Street”, por exemplo, apenas pela semelhança na utilização das redes sociais. Apesar de as formas de divulgação serem as mesmas, o caráter dos protestos é completamente diferente, pra não dizer oposto. Raoni Ras __Ao mecanismo de contratos virtuais sucessivos na determinação dos preços de equilíbrio, Léon Walras deu o nome de tâtonnement, traduzido por “tateio”. Tateio significa o ato de deduzir ou perceber por intuição, indagar, sondar para descobrir; pesquisar; fazer a experiência de; ensaiar; examinar, procedendo com cautela. Expressa bem a postura que deveria ser adotada por economistas quando se pronunciassem sobre configuração de preços relativos básicos. Na realidade, é impossível se atingir aquela situação idealizada – o equilíbrio geral –, talvez nem de maneira transitória, ou seja, de passagem, temporariamente.
Ao popularizarem aquela noção de aproximações sucessivas, os seguidores neoclássicos de Walras criaram a figura metafórica do “leiloeiro walrasiano”, cujo papel seria o de promover o reajuste dos preços com base nos contratos virtuais, só permitindo que as transações efetivamente se realizassem aos preços de equilíbrio. De acordo com os neoliberais, são o governo e as instituições que interveem no trabalho desse “sujeito” e não lhe deixam entregar o equilíbrio geral idealizado. As falhas são exógenas ao mercado. Pois bem, no Brasil, aplicando esse modelo abstrato à realidade, de maneira canhestra, alguns economistas se propõem a substituir o “leiloeiro walrasiano” ao levantarem a Hipótese do Duplo Equilíbrio. “Outro mundo é possível”: basta consultá-los a respeito de novo acerto de dois preços básicos, câmbio e juro, que o sistema de preços relativos se ajustará em novo equilíbrio. Sair-se-á do “equilíbrio perverso” atual, que prejudica a exportação da indústria de ponta, ao “equilíbrio bondoso” externo (balanço de pagamentos) e interno (pleno emprego e inflação sob controle): fantástico, não? Em economia aberta, de acordo com a síntese neoclássica, além do equilíbrio no mercado de bens e serviços e no mercado de dinheiro, haveria mais uma condição de equilíbrio: a do balanço de pagamentos. Nesse caso, não haveria nem entradas nem saídas líquidas de divisas, e o mercado de câmbio estaria em equilíbrio. A renda é um dos fatores determinantes do balanço de transações correntes, isto é, ele depende da diferença entre ritmos de crescimento da economia nacional e da economia do “resto do mundo”, e a taxa de juros é um dos fatores determinantes da conta de capital. Portanto, dadas a taxa de juros internacional e a taxa de câmbio real, determinante da competividade externa do País, o equilíbrio do balanço de pagamentos é determinado por certa combinação do nível de renda e da taxa de juros básica. Para nível estável de exportação, a elevação da renda resulta em déficit de balanço de transações correntes. Para financiá-lo, recorre-se à elevação da taxa de juros interna a patamar acima da internacional até que a entrada líquida de capital (superávit de conta capital) compense, exatamente, o déficit de balanço de transações correntes. Por isso, a relação entre a renda e a taxa de juros é crescente. A grande síntese entre o modelo de equilíbrio geral walrasiano e os circuitos neo-keynesianos, apresentados pelo Modelo Mundell-Fleming para representar economia aberta, está na escolha entre endogeneidade ou exogeneidade da taxa de câmbio. No caso de regime de câmbio fixo, ele é determinado de maneira exógena, a oferta de moeda torna-se endógena, isto é, determinada pelas forças do mercado, e a política monetária, portanto, inoperante. No caso de regime de câmbio flexível, a taxa de câmbio é determinada endogenamente pelo mercado. A política monetária passa, então, a operar via fixação da taxa de juros. O modelo brasileiro atual seria próximo deste com forte mobilidade de capital. Caso diminuísse a disparidade do juro interno face ao externo, o investimento aumentaria e a renda multiplicaria, provocando aumento da importação e tendência ao déficit do balanço de transações correntes. A queda do juro interno atrairia menos capital estrangeiro, provocando tendência ao déficit na conta de capital e, portanto, as duas tendências resultariam em déficit no balanço de pagamentos. A depreciação da moeda nacional elevaria a competitividade externa e corrigiria o balanço comercial até determinado ponto em que o mercado de bens e serviços, o de dinheiro e o de câmbio estariam em equilíbrio. Por que, na realidade, não ocorre isso? Porque os fixadores da taxa de juros (membros do COPOM do Banco Central do Brasil) supõem que o ritmo de crescimento da economia que equilibra o balanço de transações correntes é menor do que o que alcança ao pleno emprego. Quando ultrapassou este produto potencial, pressionou a inflação. Em outras palavras, eles tateiam na fixação do juro, enfrentando o dilema de país estruturalmente deficitário: escolher entre déficit externo, inflação ou desemprego. Se diminui este, aumentam aqueles. O que alguns economistas desenvolvimentistas estão propondo? Estes pós-keynesianos neowalrasianos adotam a “hipótese do duplo equilíbrio“: um observado (câmbio corrente e Selic-meta) e outro potencial com câmbio fixado mais alto, para o equilíbrio industrial, juro livre para cair, e controle de capital, inclusive na saída. Porém, nesse caso, política fiscal expansionista seria menos eficaz, porque, caso a afrouxasse, o crescimento da economia expandiria a importação, mas, antes, a elevação do juro pela necessidade de endividamento público, embora elevasse o cupom cambial, não reverteria a expectativa negativa dos investidores estrangeiros. Predominaria a tendência ao déficit externo, queda de reservas cambiais na tentativa de manter a moeda nacional depreciada, e consequente contração monetária. O equilíbrio nos mercados só ocorreria, depois, com menor nível de renda e taxa de juros mais elevada. Infortunadamente, a expansão monetária com mobilidade fraca de capital, em regime de câmbio fixo, também seria ineficaz. Elevaria a importação e o repatriamento de capital estrangeiro, provocando déficit no balanço de pagamentos, queda das reservas cambiais e, afinal, contração monetária, contrapondo-se àquela expansão inicial. Por isso, seria necessária a cautela por parte dos economistas, quando se pronunciassem sobre configuração de preços relativos básicos. Fernando Nogueira da Costa _No último dia 15 de novembro foi promovida uma série de marchas contra a corrupção em diversas cidades brasileiras. Neste dia, a população foi às ruas clamando pelo fim de um dos maiores males da política brasileira, a corrupção. O tema é urgente e importantíssimo, pois se calcula que bilhões de reais são desviados por ano, dinheiro este que poderia ser usado na saúde, educação, segurança, obras públicas etc.
No entanto, o resultado ficou muito aquém do ideal. Organizadores do movimento comemoraram algumas centenas de pessoas na rua, o que pode ser razoável em cidades como Blumenau, com 300 mil habitantes, mas péssimo em cidades como São Paulo e Brasília, por exemplo. Ao invés de ficar bradando que o povo brasileiro não tem maturidade política, que somos um país subdesenvolvido e outros discursos prontos, penso que o problema é econômico e não político, ou seja, parafraseando James Carville, “é a economia, estúpido!”. Estamos vendo uma quantidade extremamente grande de manifestações ao redor do mundo, começando pela primavera árabe, manifestações na Europa e o ocupe Wall Street. Serão manifestações políticas ou econômicas? A primavera árabe, apesar de ser um movimento contra a ditadura nos países árabes, começou na Tunísia com um desempregado ateando fogo ao seu corpo justamente em protesto contra a falta de emprego. No Egito, protestos já haviam começado pela alta do preço do pão (base da alimentação local). Esta insatisfação econômica levou a uma revolta que ganhou corpo e passou a protestar contra o governo e então acabou contagiando a população, inclusive de outros países árabes, como em um efeito viral. O movimento europeu já é diferente, 100% econômico. Protesta-se contra muita coisa, mas, principalmente, contra os pacotes de austeridade que incluem reduções de aposentadorias, demissões de funcionários públicos, corte de salários etc. E no último final de semana tivemos um exemplo muito concreto disto. O primeiro ministro da Itália Sílvio Berlusconi só caiu pelo agravamento da crise econômica, não pelas acusações de corrupção ou escândalos em sua vida pessoal. Finalmente, o movimento ocupe Wall Street, em Manhattan, protesta contra o sistema financeiro, motivados pela grave situação econômica, visto que os bancos estão bem enquanto a população em geral está endividada, sem dinheiro para pagar a hipoteca das casas e tendo que abrir mão do seu padrão econômico de vida. Já no Brasil, a situação é diferente. A crise econômica ainda não chegou com força por aqui. O desemprego é baixo, a renda da população está melhorando e o crédito continua a se expandir. Quando a situação econômica é boa, o povo tende a esquecer de problemas maiores, como os romanos já conheciam muito bem, com a política do pão e circo (panis et circenses). Logo, pode ser que as marchas não tenham tido a adesão desejada não pela falta de interesse ou maturidade política do povo brasileiro, mas tão somente pela boa situação econômica do país, o que traz um desafio ainda maior para todos aqueles que lutam contra a corrupção e mazelas do nosso país. Jorge Eduardo Scarpin _Copenhague, Dinamarca, 02/11/2011:
Brasil avança no desenvolvimento humano e sobe uma posição no ranking do IDH 2011. RDH 2011 mostra Brasil na 84ª posição entre 187 países; nos últimos 5 anos, o país está entre os 24 que subiram 3 ou mais posições. Entenda o IDH O IDH varia de 0 a 1 (quanto mais próximo de 1, maior o desenvolvimento humano), e mede as realizações em três dimensões básicas do desenvolvimento humano - uma vida longa e saudável, o conhecimento e um padrão de vida digno. As três variáveis analisadas, dessa forma, são relacionadas à saúde, educação e renda. Desde o ano passado o Relatório de Desenvolvimento Humano deixou de classificar o nível de desenvolvimento de acordo com valores fixos e passou a utilizar uma classificação relativa. A lista de países é dividida em quatro partes semelhantes. Os 25% com maior IDH são os de desenvolvimento humano muito alto, o quartil seguinte representa os de alto desenvolvimento (do qual o Brasil faz parte), o terceiro grupo é o de médio e os 25% piores, os de baixo desenvolvimento humano. 18 países incluídos este ano Palau, Cuba, Seychelles, Antígua e Barbuda, Granada, Líbano, São Cristóvão e Névis, Dominica, Santa Lúcia, São Vicente e Granadinas, Omã, Samoa, Territórios Palestinos Ocupados, Kiribati, Vanuatu, Iraque, Butão, Eritreia. do PNUD O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do Brasil avançou de 0,715 em 2010 para 0,718 em 2011, e fez o país subir uma posição no ranking global do Relatório de Desenvolvimento Humano (RDH) deste ano. Com isso, o Brasil saiu da 85ª para a 84ª posição, permanecendo no grupo dos países de alto desenvolvimento humano. O documento foi lançado esta quarta-feira pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), em Copenhague, na Dinamarca. O Relatório de Desenvolvimento Humano 2011 apresenta valores e classificações do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) para um número recorde de 187 países e territórios reconhecidos pela ONU. Um aumento significativo em relação aos 169 países incluídos no Índice de 2010, quando os indicadores-chaves de muitos dos novos países analisados este ano ainda estavam indisponíveis. No ranking global do IDH 2010, o Brasil obteve a classificação 73, entre os 169 países. No entanto, é enganoso comparar valores e classificações do RDH 2011 com os de relatórios publicados anteriormente . Isto porque, além da inclusão de 18 novos países e territórios (veja a lista no quadro ao lado), os dados e métodos sofreram ajustes e algumas mudanças. Intitulado “Sustentabilidade e equidade: Um futuro melhor para todos”, o Relatório de Desenvolvimento Humano 2011 mostra que o Brasil faz parte do seleto grupo de apenas 36 dos 187 países que subiram no ranking entre 2010 e 2011, seguindo os dados recalculados para a nova base deste ano. Os outros 151 permanceram na mesma posição ou caíram. No caso brasileiro, esta evolução do IDH do ano passado para este ano contou com um impulso maior da dimensão saúde – medida pela expectativa de vida –, responsável por 40% da alta. As outras duas dimensões que compõem o IDH, educação e renda, responderam, cada uma, por cerca de 30%. João Melo |