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Bissau
O portal (ou os vários portais) da Wikileaks tem tornado público, como é do conhecimento global, um número inusitado de documentos confidenciais da política externa norte-americana. A maioria pertence a zonas sensíveis para a política externa das sucessivas administrações de Washington, nomeadamente, Europa, China, Médio Oriente e Brasil.
Mas o que até ao momento a Wikileaks ainda não mostrou, salvo uma referência ligeira e natural a Cabo Verde por causa da visita que a Secretária de Estado, HillaryClinton, fez ao arquipélago em 2009, foi nada sobre os países afro-lusófonos, nomeadamente, e por todas as razões, entre elas o facto de ser só o 6º fornecedor de crude aos EUA e ser uma plataforma importante no Golfo da Guiné, qualquer referência a Angola. Mas também ainda não se sabe nada de Guiné-Bissau, apesar de alguns dos seus dirigentes serem acusados de tráfico de droga e o país estar conectado como uma plataforma logística para o transporte de droga entre a América Latina e África ou entre aqueles e a Europa; nem sobre São Tomé e Príncipe, onde os norte-americanos ponderaram colocar uma base naval, semelhante a de Diego Garcia, e onde eventualmente ficaria estacionada a AFRICOM, além de manterem uma estação de radar na ilha do Príncipe; nem sobre Moçambique, principalmente pelo facto de ser uma das portas mais importantes para o Zimbabué com quem os norte-americanos e os europeus mantém um “simpático” litígio de opiniões; nem, tão-pouco, sobre Timor-leste e a sua posição geoestratégica na sensível zona da Indonésia nem sobre a questão do petróleo timorense e Austrália. Ou seja, e tendo em consideração que a Wikileaks pensa tornar público cerca de 250 mil documentos, salvo se não for novamente encerradas as actuais vias de informação netianas, tal como já aconteceu com a primeira versão e com uma das suas fontes de pagamento, por certo que ainda se espera vir encontrar documentos nesse sentido. A não ser, que de encontro à proverbial divisão geográfica norte-americana do mundo em nós (USA), os aliados, eles e os outros, os restantes países da CPLP (Portugal com um documento e Brasil com vários) já estão referenciados, Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau e STP sejam dos outros e por isso as suas contas bancárias estejam “caçadas”. Recordemos que dois militares de alta graduação da Guiné-Bissau terão sido acusados de terem contas nos EUA provenientes do narcotráfico, contas essa que teriam sido bloqueadas. Talvez que aqueles países estejam todos reconhecidos como o “país” PALOP! Depois da senhora governadora do Estado do Alasca e ex-candidata a vice-presidente dos EUA, Sarah Pallin, ter afirmado que a Coreia do Norte era um aliado dos EUA, já tudo é natural... Eugénio Costa Almeida
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O Presidente da República de Portugal, Cavaco Silva, defende que a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), coisa que em consciência ele sabe ser um elefante branco, e outras “instituições e organizações” da comunidade internacional podem “dar um contributo da maior importância” para ultrapassar a crise crónica na Guiné-Bissau.
Num dircurso politicamente correcto, feito no passado dia 6 de Julho, que serve para tudo e para todos, Cavaco Silva teimou em não dizer o que sabe e, é claro, a dizer apenas o que dá para agradar a gregos e troianos, no caso a civis e militares guineenses. É, aliás, uma das características da Lusofonia. Dar uma no cravo e outra na ferradura de modo a que, seja qual for a solução, há sempre margem de manobra para se dizer que não houve nenhum compromisso. “Nós depositamos grande confiança no acompanhamento da situação guineense que está a ser feito no âmbito da CEDEAO, da CPLP, da UE e das Nações Unidas. Consideramos que a comunidade internacional, em particular através destas instituições e organizações, pode dar um contributo da maior importância para fortalecer aquelas que são frágeis instituições constitucionais do país”, disse Cavaco, à margem da visita de Estado que então fez a Cabo verde. Uma das traduções destas afirmações diz que Cavaco Silva entende que António Indjai não deveria ser o chefe militar. O presidente português deixa, contudo, uma ambiguidade típica que lhe permite, um dia destes, receber em Lisboa o novo líder militar guineense. E se dúvidas existirem, poderá sempre dizer que nunca ninguém o ouviu dizer que era contra... Em declarações à imprensa após um encontro com o seu homólogo cabo-verdiano, no qual o assunto foi abordado, Cavaco Silva realçou a “grande convergência de pontos de vista” existente entre os dois países sobre o assunto. Mais directo, e não sei se satisfeito por ser o único a assumir de forma clara o assunto, Pedro Pires disse que “a Guiné tem poderes legítimos eleitos (…) e há um outro poder, que se manifesta e interfere frequentemente na vida política, que é a instituição militar”. Havendo, como disse Cavaco, “grande convergência de pontos de vista”, porque carga de água o presidente português não falou, como Pedro Pires, na interferência dos militares nas questões políticas? Cá para mim, Portugal continua a estar sempre do lado de quem está no poder, independentemente de serem ditadores civis ou militares. Sempre assim foi desde as independências das ex-colónias e, pelos vistos, sempre assim será. Veja-se que, perante a apatia da Comunidade de Países de Língua Portuguesa, a União Europeia, os EUA e a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental criticaram a nomeação de António Indjai para chefe das Forças Armadas da Guiné-Bissau. Eles criticam. A CPLP cala-se. Portugal mete o rabinho entre as pernas e lá vai cantando e rindo na vertiginosa aproximação aos países mais desenvolvidos do norte de... África. Na sequência da nomeação de António Indjai, os EUA anunciaram que não vão apoiar a reforma do sector de defesa e segurança e a União Europeia disse que vai rever os acordos de cooperação com a Guiné-Bissau. Quanto aos países lusófonos, o melhor é esperar para ver. Desde logo porque, fazendo fé na tradição guineense, o mais certo é em breve Malam Bacai Sanhá deixar de ser presidente e António Indjai de ser chefe das Forças Armadas... Orlando Castro |