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LUANDA
O Poder não se ostenta, exerce-se. Esta seria, segundo a minha opinião, a observação que melhor definiria a pessoa de José Eduardo dos Santos, mas não apenas ele. Poderia também definir a pessoa de Manuel Vicente, enquanto, foi Presidente da Sonangol. A Petrolífera Estatal é a face do Poder Económico, Financeiro e Exterior de Angola, em certa medida, é a imagem de marca do país. Seguindo esta linha de raciocínio o Presidente da Sonangol é uma espécie de Ministro da Economia, das Finanças e das Relações Exteriores de Angola. Tamanho é o Poder. Questiono-me, se abandonar a Presidência da Sonangol para ocupar uma pasta no Executivo, no fundo, não é uma perda de Poder?
Quem tratou com Manuel Vicente, descreve-o, como uma pessoa discreta, afável e um duro negociador, um peso pesado de Angola, coincidência ou não, considero o perfil de Manuel Vicente muito parecido com o do Presidente da República. Não sei se será o Delfim de José Eduardo dos Santos, para uma possível sucessão, o Oráculo da Cidade Alta, é indecifrável, mas são, inquestionavelmente, duas almas siamesas na aparência, ambas conhecem o exercício do Poder, apenas, falta a uma, o exercício da Política para ambas se completarem. O exercício da Política é algo que Manuel Vicente desconhece, pelo menos, na esfera mais intima da oligarquia angolana, a forma, como souber interpretar esta lógica dependerá o seu destino. Por vezes, uma excessiva proximidade ao Núcleo do Poder, a esfera mais intima, pode ser responsável pelo diluir do Poder de quem se aproxima em demasia, a história política de Angola, está repleta de ascensões e quedas meteóricas. A sabedoria com que se gere o espaço e o tempo, é fundamental, principalmente, para quem tem pretensões políticas maiores. Convenhamos, em Angola são várias as figuras com pretensões maiores. Na essência, neste momento, não sei o que significa o novo papel de Manuel Vicente no Circulo do Poder, apenas sei, ser um pré-requisito necessário para chegar ao ponto mais alto. O facto, de se considerarem cenários de sucessão no seio do Poder, de existir uma linha de planeamento, apenas, é indiciador da maturidade política que começa a existir em Angola. Se, de facto, chegamos a maturidade política também seria positivo um exercício de reformulação ideológica ao nível dos partidos políticos. Os dogmas devem ficar no passado porque o futuro pertence-nos. Pedro Van-Dúnem
1 Comment
O Dr. Jonas Malheiro Savimbi é considerado por muitos o pai do multipartidarismo em Angola, algo que o partido MPLA nunca esquecerá.
Um estadista com este calibre, que por opção fez a luta armada, primeiro contra o colonialismo e depois contra a hegemonia do partido único totalitário em Angola, nas matas e junto ao seu povo, tinha que ser liquidado para que os interesses económicos internacionais e da nomenclatura nacional, prevalecessem em detrimento do bem estar dos Angolanos. A procura de informação na internet e na imprensa sobre o Dr. Savimbi é constante por parte dos Angolanos e estrangeiros, na busca do papel histórico que este revolucionário teve no país e em África. As tentativas frustradas de sonegarem e apagarem tudo aquilo que se relacione com a luta popular liderada pelo Dr. Savimbi, tem sido uma perda de tempo por parte daqueles que temem os seus seguidores, mesmo depois de morto em combate. A esperança dos Angolanos em ano de eleições, reside no aparecimento de uma liderança carismática e motivadora dos anseios legítimos do povo, em viverem com dignidade e serem donos da sua terra. Os seguidores dos ensinamentos ideológicos do Muata da Paz, têm o desafio de colocarem-se junto dos oprimidos, dos que não têm água potável, luz e saneamento básico, saúde, educação e habitação, emprego, justiça social numa democracia encapuçada em que a lei é para inglês ver. Estou convicto, que se o Dr. Savimbi fosse vivo teríamos uma nação reconciliada e próspera, em que os Angolanos estariam sempre em primeiro lugar. Carlos Lopes A Instituição Financeira Millennium BCP acaba de conhecer uma profunda alteração na sua presidência, saí Carlos Santos Ferreira e entra Nuno Amado. Penso que o timing e a mudança eram necessárias, dado o enfraquecimento da Instituição Financeira. Como o próprio Carlos Santos Ferreira reconheceu, muita coisa foi feita para recuperar a solidez do Banco mas ainda pairava um custo/passivo reputacional sobre a Instituição. O maior pecado de Santos Fereira foi entrar numa Instituição Financeira em guerra com o peso de uma figura politizada, algo que, acabou por marcar toda a sua trajectória no Millennium BCP.
O sucessor, Nuno Amado, tem no seu Curriculum a Presidência do Totta Santander, o único dos grandes bancos portugueses a apresentar lucros. Creio que Nuno Amado não é uma figura mais omnipresente na Banca portuguesa devido à sombra de Horta Osório, por isso, considero a escolha acertada apesar da situação complexa em que vive a Banca portuguesa sobre o espectro do Euro. É importante que o novo Presidente do Millennium BCP seja imune à influências accionistas, a prioridade é devolver ao Millennium BCP à imagem de grande Banco que perdeu nestes últimos anos, facto bem reflectido na cotação em Bolsa, é necessário que o Banco volte a ser uma máquina de fazer dinheiro, algo apenas possível se existir uma boa gestão. Continuo a pensar que a aposta para recuperar a solidez financeira é a concentração accionista, o Banco deve ter como base grandes accionistas de referência, portanto, o caminho do reforço accionista da Sonangol no Millennium BCP parece-me correcto, no entanto, não é imune de riscos. A percepção de que é necessária uma maior concentração accionista não passa desapercebida ao próprio Banco, não creio que seja inocente o rumor que corre, que indica uma eventual entrada de um novo accionista chinês na estrutura do Banco. A cotação bolsista, o reforço de capital e a necessidade de liquidez proporcionam um ambiente propicio a uma nova entrada. A estrutura de poder do Millennium BCP poderá dividir-se entre capital angolano e chinês, diga-se, em abono da verdade, a influência angolana já se faz sentir em todos os órgãos do Banco. É uma consequência natural, não faria sentido ser o maior accionista e não ter capacidade de influência/poder no Banco, mas este alegado poder não deve colidir com o trabalho da nova administração. A prioridade dos accionistas é velar por uma boa governação da Instituição, somente, assim poderá ter força para absorver os impactos e as incertezas futuras. Os impactos, são os riscos de exposição da Instituição, nomeadamente, à divida grega, com uma eventual reestruturação ou um default no horizonte, as imparidades já se fizeram sentir na mais recente apresentação de Resultados do Banco, depois há que considerar uma eventual saída da Grécia do Euro e as consequências que tremendo desastre terá sobre a economia portuguesa, sobretudo, no seu sistema financeiro, entenda-se, Bancos. As perspectivas são negativas, tudo o indicia, somente, os mais fortes irão sobreviver. Miguel Amaral __A última edição (03/02/2012) do semanário "ACapital" dirigido por Tandala Francisco não chegou às mãos dos leitores, porque a administração da MEDIVISION SA, nova proprietária do jornal fundado pelo Américo Gonçalves, decidiu que a mesma não tinha "qualidade" para ser consumida pelo público. Na origem de mais esta grave violação da Constituição está um dossier elaborado pelo semanário sobre a última remodelação de JES, com base na avaliação feita por vários jornalistas e analistas. Eu fui um deles, tendo para o efeito respondido ao seguinte questionário:
1. Há tendência da Sonangolização do Governo, ou seja, uma boa parte dos Ministros de proa do Actual Executivo passaram pela Sonangol. O que lhe parece esse critério? Será que há um défice de quadros no seio do MPLA noutras esferas de actividade? Reginaldo Silva (RS)- Numa primeira avaliação e sem dispor de outros elementos mais estatísticos, percebe-se que JES sempre teve na Sonangol a sua reserva estratégica de quadros, o que não passa necessariamente pela sua presença maioritária no Executivo em cargos ministeriais. No actual Executivo e para além do novo Ministro de Estado e da Coordenação Económica, Manuel Vicente, provenientes da Sonangol temos apenas o Ministro da Construção e Urbanismo, Fernando da Fonseca. Os outros dois, da Geologia e Industria (Joaquim David) e dos Petróleos (Botelho de Vasconcelos) já tinham deixado a petrolífera há vários anos, não devendo por isso figurar nesta contabilidade. A denominada “sonangolização” do governo/país tem outras nuances menos visíveis, mas não menos importantes e estruturantes, que tem passado pela transferência para a gestão da petrolífera nacional de outros sectores de actividade que não têm nada a ver com o seu “core business” original, como são os recentes investimentos públicos feitos na indústria (zona económica especial do Icolo e Bengo) e do imobiliário (novas centralidades). O destaque desta “sonangolização” vai, entretanto, para a transformação da empresa numa espécie de fundo soberano, sendo esta intervenção da Sonangol virada para o exterior do país, onde os biliões do erário público têm vindo a ser movimentados em condições/critérios desconhecidos da esmagadora maioria dos angolanos, o que tem alimentado as mais diferentes especulações sobre o seu real paradeiro. A exigência da transparência só agora, com o acordo Stand By assinado com o FMI, começou a produzir os seus primeiros, mas ainda muito tímidos resultados. Ainda só se está a ver a ponta do iceberg. 2. A indicação de Manuel Vicente para o cargo de Ministro de Estado para Coordenação Económica, numa altura em que existem Ministros da Economia e das Finanças não cria um "engarrafamento" de competências para um e um vazio de competências para outros outros? Ou, no contexto actual há necessidade para tal? RS- A indicação de Manuel Vicente (MV) para este cargo, parece corresponder mais a agenda política pessoal de JES, do que a outras motivações, embora ela, aparentemente, esteja, de acordo com a justificação oficial, relacionada com a necessidade de imprimir uma nova dinâmica ao funcionamento do Executivo. Cansado de ouvir falar em novas dinâmicas neste país já nem reparo no pormenor. Como se sabe este cargo de Ministro de Estado e da Coordenação Económica, não é tão novo quanto isso, tendo sido extinto a não muito tempo, depois do seu anterior titular, Manuel Nunes Junior, ter sido demitido para ser atirado para uma outra “prateleira”, em mais uma movimentação que poucos entenderam. JES tem finalmente o Executivo com que sempre sonhou? Não me atrevo a responder a esta questão, porque já desisti de fazer alguma futurologia em torno dos seus "insondáveis desígnios". O que é facto é que MV entrou finalmente na alta-roda da política angolana, onde sempre esteve, embora de forma pouco "institucionalizada", mesmo depois de ter franqueado as portas do BP do MPLA. Nos poucos meses que já nos restam para a realização das próximas eleições gerais e enquanto se aguarda pela aprovação da lista do MPLA, com as atenções voltadas para a indicação do nº2, MV vai fazer um rápido tirocínio no cargo de "primeiro-ministro em exercício para todos os efeitos", deixado vago por Carlos Feijó. A Sonangol deixará de ter o poder anterior, que sairá com MV para o Fundo Petrolífero e para a eventual criação de uma agência concessionária do petróleo angolano. Estas instituições passarão a funcionar na esfera da nova coordenação económica ora criada para acomodar este “salto de cavalo” de Manuel Vicente em direcção ao futuro, que só pode ter a ver com o futuro do próprio país, com ou sem JES. No Executivo as remodelações/reestruturações/adaptações/ já não me merecem grande atenção, pois acho que nada é definitivo, tudo é instrumental, não adiantando por isso estar aqui a tentar ver qualquer pensamento mais estratégico do ponto de vista da resolução dos reais problemas (estruturais) com que o país está confrontado. O que hoje parece ser definitivo, amanhã pode já ter sido atirado para o caixote do lixo. 3. Há ou não há diminuição de funções a Carlos Feijó, com o surgimento de Manuel Vicente? RS- Claramente Carlos Feijó desaparece de cena onde foi até agora a “estrela mais brilhante da companhia”, sendo da sua autoria, ao que julgo saber, o modelo do novo Executivo que entrou em funções com a nova Constituição. As razões deste prematuro ocaso estão a ser objecto das mais diferentes especulações, sendo mais ou menos claro que ele vai voltar a fazer mais uma travessia pelo deserto, caso não se venha a demitir. A colocação de CF, enquanto Chefe da Casa Civil do Presidente da República, a “controlar” o Vice-Presidente é que é, quanto a mim, a mais surpreendente do ponto de vista institucional. Tendo a função de Vice-Presidente da República respaldo e dignidade constitucional, fica difícil de perceber a razão que leva JES a fazer deslocar CF para as proximidades do gabinete de Nandó, que já está preenchido com os auxiliares que ele precisa para desempenhar as suas funções na área social. 4. No caso específico de Luanda, existe uma comissão administrativa e existe o governo provincial. Isso, no vosso entender, não vai criar um "choque" na atribuição e assunção de tarefas? RS- O governo, com base na nova lei da divisão administrativa e, acho, na perspectiva já da consagração do poder local com a prevista (?!) realização das eleições autárquicas, está a ensaiar em Luanda este modelo que passará pela coabitação ao nível das províncias entre um representante do poder central e a gestão descentralizada ao nível municipal. Os choques institucionais em Angola são a regra, mesmo quando as coisas já estão suficientemente clarificadas, o que não é, certamente, o caso de Luanda com esta novel divisão administrativa. Em Luanda e tendo até em conta os perfis dos novos titulares, com destaque para Bento Bento e do General Tavares, esta coabitação dificilmente será pacífica, pelo que, admito, as coisas vão-se complicar nos próximos tempos. Reginaldo Silva _Tem sido quase um “case study” em Angola que certas personalidades que começam a se evidenciar são cooptadas para cargos administrativos governamentais e daí para… parte incerta.
Mas vezes para postos honoríficos diplomáticos fora de zonas de influência, outros acabam em obscuros administradores de empresas públicas ou de parcerias público-privadas ou na docência e com passagens muito subtis pelo mundo da política, com periódicas entrevistas. Dispenso-me de nomear nomes, até porque eles andam sempre nas bocas das páginas sociais. Além de que poderia ser processado por vituperação, já que aquilo nunca acontece… Agora parece ter calhado este imbróglio ao todo poderoso e competente, reconheça-se, homem-forte do mundo petrolífero lusófono, Manuel Vicente, com o convite do senhor Presidente (será o candidato do MPLA à sua sucessão?) José Eduardo dos Santos para Ministro Estado e da Coordenação Económica, depois, espanto (pelo menos quem lê a comunicação social fica com essa ideia, “de espanto”) ter sido exonerado do cargo de presidente da Sonangol. Como se fosse possível coabitar as duas funções. Enfim… A maioria dos analistas, nacionais e internacionais, apontam Manuel Vicente, como uma estrela em ascensão e possível futuro nº 2 de um Governo do reeleito – a minha utopia não dá para mais – Eduardo dos Santos na sua segunda – para alguns, que para mim, é (será) terceira o que colidiria com a Constituição (seja a de Fevereiro de 2010 ou a anterior) – eleição presidencial e possível sucessor, devido ao cargo de vice-presidente, numa eventual resignação do presidente. Ou seja, todos prevêem que Eduardo dos Santos deseja preparar uma “secessão” – e eu que julgava que estávamos numa República e aí não há sucessões ao contrário da monarquia – serena, calma e discreta, evitando assim, alguns eventuais sobressaltos que a sua austera e imaculada figura pudessem criar ao sair da Cidade Alta. Esperemos que isto se concretize e que a nomeação de Manuel Vicente para um lugar de enorme destaque na oligocracia governativa nacional não seja, antes, uma forma de o regionalizar para outros arrendais. Se nos recordarmos ao que tem acontecido a outras figuras gradas que são colocadas como Governadores da Província de Luanda e que depois esfumaram por um éter ignoto ou incógnito… Eugénio Costa Almeida _Tenho assistido com interesse o novo discurso do executivo sobre o papel da iniciativa privada em Angola, com palavras de estimulo para os empresários angolanos assumirem uma maior preponderância na economia angolana. Este discurso tem como premissa uma menor intervenção do Estado na economia e dar ao privado o papel de principal dinamizador e criador de riqueza, no fundo, é liberalizar a economia, o Estado ou os seus protagonistas assumem um papel liberal.
É uma mudança radical de discurso e de pensamento, passar de um modelo intervencionista na economia para um papel de delegar funções para os privados, a questão, é saber se um modelo mais liberal funciona em economias em estados prematuros de desenvolvimento, onde os empresários não possuem massa critica e nem existe acumulação de bens de capital? Penso que em economias em estado prematuro de desenvolvimento, o Estado tem um papel fundamental na economia definindo as prioridades de desenvolvimento e uma intervenção activa no planeamento das infraestruturas necessárias para o país, principalmente, quando o privado nacional carece de competências para assumir esse papel. No meu ponto de vista, o papel do Estado na economia angolana chega ao ponto, de ser o principal responsável para criar condições para que a iniciativa privada se possa desenvolver. Para ser empreendedor, não basta ter uma ideia de negócio exequível, é preciso capacidade para implementar a ideia, a capacidade passa pelo acesso à capital humano, capital próprio e capital alheio. Estas condições nem sempre estão reunidas no mercado angolano, onde o acesso à mão-de-obra qualificada é difícil, bem como ao financiamento, um processo demasiado complexo, sem mencionar toda a estrutura burocrática que existe em Angola. Curiosamente, faz-se apologia à uma posição mais liberal mas depois a prática é de um maior proteccionismo, nomeadamente, no que se refere à incorporação de mão-de-obra estrangeira mais qualificada. Não nos enganemos à mão-de-obra estrangeira mais qualificada não vem para Angola, procura outras paragens para desenvolver a sua carreira profissional de forma mais sustentada, procura condições que Angola não pode oferecer porque simplesmente não possui. No entanto, a mão-de-obra qualificada que chega à Angola é necessária porque é requerida pelo próprio mercado, senão fosse necessária simplesmente não seria absorvida. Aqui coloca-se uma questão essencial, porque razão os quadros formados nas Universidades angolanas são preteridos em relação aos estrangeiros? Porque razão o mercado faz esta distinção? Será que o ensino universitário em Angola vai de encontro com as necessidades dos empresários? Será que as Universidades angolanas trabalham o mercado e fomentam a constituição de parcerias entre a Universidade e a Empresa? Ou será que a Universidade se limita a formar quadros, sem fazer um acompanhamento da sua inserção no mercado de trabalho, deixando o recém-licenciado entregue a sua própria sorte? Será que a Universidade tem instrumentos para os recém-licenciados desenvolverem os seus próprios projectos empresariais, incentivando, deste modo, o empreendedorismo? Nesta questão existem dois grandes malefícios para a economia angolana, o recém-licenciado que fica no desemprego, cada dia corresponde a uma perda de competências e a uma desvalorização do investimento realizado, por outro lado, o expatriado para quem Angola é apenas um projecto de vida de curto-médio prazo, quando seria do interesse do Estado e da economia angolana que o seu projecto profissional e de vida fosse de longo-prazo. Ricardo Amorim _[NA: Somos citados duas vezes nesta preocupante avaliação de Rafael Marques sobre o actual estado da comunicação social pública neste ano de eleições.De facto e depois de já termos publicamente partilhado esta visão sobre o reforço do controlismo político em relação ao desempenho dos médias, este trabalho do RM ("MPLA reforça censura na TPA e RNA") , do qual respigamos para aqui alguns extractos, tem o mérito de nos fornecer um quadro de referências mais abrangente sobre como é que as coisas estão e como é que elas vão caminhar pelas nossas bandas. Alguém viu por aí a liberdade de imprensa?]
"(...) Apesar do controlo absoluto que o poder exerce sobre os órgãos de comunicação social do Estado, há 36 anos, os censores desdobram-se em novas descobertas de potenciais focos de abertura, aperfeiçoam e reforçam os métodos de censura. Por exemplo, a TPA retirou do ar o seu programa “Semana em Actualidade”, que ia ao ar às 19h30 de domingo. O debate, dirigido pelo jornalista Antunes Guanje, e no qual participavam os também jornalistas Reginaldo Silva e Ismael Mateus, analisava de forma quase irrestrita os assuntos mais marcantes de cada semana. Era o único programa não censurado e o presidente do Conselho de Administração da estação pública de TV, António Henriques da Silva, retirou-o da grelha sem dar qualquer tipo de satisfação a quem quer que fosse. Das “instâncias superiores” recebeu a “orientação” que era preciso “travar os excessos do Reginaldo e do Ismael” e agiu em conformidade. O grupo de onze portugueses, liderados por Frederico Roque de Pinho, antigo jornalista da SIC, têm sido responsáveis pela alteração arbitrária de programas da TPA, bem como a sofisticação dos métodos de censura dos seus conteúdos, como tem acontecido com o “Espaço Público” e “Bom Dia Angola”. Os profissionais portugueses foram contratados pelos filhos do Presidente da República, Tchizé e Paulino dos Santos, através do Grupo de Revitalização e Execução da Comunicação Institucional da Administração (GRECIA) criado pelo pai para lavar a sua imagem e a dos actos do seu executivo. Perante a resistência passiva e o descaso de muitos jornalistas estatais, os filhos do presidente, que também controlam a TPA apenas confiam nos portugueses e pouco mais para dar cumprimento à sua agenda. Investido de tal poder, Frederico Roque de Pinho tem sido regularmente ameaçado de sova por funcionários a quem usurpa competências, trata com arrogância e faltas de respeito. Com um salário de dez mil dólares mensais e todas as despesas pagas, Frederico Roque de Pinho não se coíbe de manifestar que os seus colegas angolanos são incompetentes e mal-pagos. Na Rádio Nacional de Angola uma brevíssima análise económica semanal do jornalista Reginaldo Silva (outra vez ele) foi retirada da grelha de programas por causa do “momento especial” que se vive. Um dos mais empedernidos defensores do Eduardismo, o académico Mário Pinto de Andrade, também foi cerceado. Ele tinha um programa de análise política e mesmo exaltando, a cada intervenção, a genial clarividência do “Guia Imortal Adjunto” (entenda-se, José Eduardo dos Santos) não escapou da excomunhão. De tanta bajulação, só faltou Mário Pinto de Andrade afirmar que o ar que os angolanos respiram devem-no ao “grande estadista”. (In http://makaangola.org/2011/12/mpla-reforca-censura-na-tpa-e-rna/) Reginaldo Silva _Se as expectativas se cumprirem em 2012, Angola irá ser palco de Eleições Presidenciais, espero que este facto seja uma realidade. Seria um sinal do normal funcionamento das Instituições em Angola, apesar da sua normal fragilidade. Gostaria de analisar o ciclo eleitoral em Angola, em circunstâncias normais penso que o MPLA ganhará sem dificuldades as próximas eleições, apesar, do crescente descontentamento das populações em relação à Governação preconizada por José Eduardo dos Santos. No entanto, uma vitória avassaladora do MPLA não me parece positiva, para Angola e nem para o próprio M. Penso, que as discrepâncias eleitorais não serão tão esmagadoras, porque todo o processo eleitoral parece ser mais transparente, por outro lado, os observadores internacionais estarão mais atentos as irregularidades do processo eleitoral. No entanto, como já foi referido, a vitória do MPLA não está em questão, a questão será saber a margem da vitória.
Analisando o papel de cada partido no país, podemos reconhecer que o MPLA reúne a elite política e económica do país, por isso, não surpreende o absoluto controlo dos meios de comunicação social, um instrumento vital na construção da vitória democrática, e não é por acaso, o acesso é muito restringido aos demais partidos políticos. É um atributo fundamental, para transmitir as escolhas políticas do Governo e o adoutrinamento dos cidadãos. Esta falta de acesso aos meios de comunicação por parte da UNITA, é um dos principais obstáculos a sua acção política, no meu entender, é fulcral uma maior presença do partido junto das bases sociais do país, senão é possível um acesso equitativo aos meios de comunicação social, então, o trabalho terá que ser na rua, junto das populações. O fundamental, neste processo, é ter uma linguagem e uma mensagem adequada ao público-alvo, simples e directa de forma a ser correctamente assimilada e entendida pelo potencial eleitor. Sem demagogia, expor de forma séria e compreensível o projecto de Governação do partido para o país. É fundamental que a comunicação da mensagem política seja perceptível e passível de ser compreendido pelo eleitor, somente assim, é possível despertar as consciências. A UNITA tem sido um partido cuja base social tem sido sistematicamente reduzida, numa democracia este processo não é normal, para este definhamento, a explicação mais plausível deste fenómeno é a ausência de elites intelectuais e económicas no partido. Por outro lado, o Bloco Democrático reúne possivelmente a nata da nata da elite intelectual angolana, no entanto, a expressão eleitoral deixa muito a desejar, a minha explicação para este fenómeno deve-se ao facto do povo angolano ainda não estar preparado para um discurso político muito intelectualizado, na essência, o Angolano vê na política uma forma de subir na vida, portanto, a opção mais lógica é o M. Luanda foi palco de novos eventos como as manifestações, que provocaram nervosismo no Executivo, com afirmações e reacções despropositadas, no entanto, estas manifestações revelaram um facto muito importante, um exercício de maturidade cívica e política dentro do possível, apesar das intimidações, não se registaram vitimas. Se os políticos angolanos viverem sobre o espectro da responsabilidade, se preocuparem exclusivamente em cumprir com o seu papel, o país poderá respirar um novo fôlego e colocar o país na vanguarda política da África Subsariana, caso contrário, vamos continuar a assistir aquele filme continuamente repetido nas matinés dos fins de tarde. Pedro Van-Dúnem _Em 2012, Angola terá eleições gerais, elegendo Deputados e o Presidente da República. É um ano em que os angolanos vão aproveitar para reivindicar melhores condições de vida, ao nível da saúde, educação, habitação, emprego, água potável e saneamento básico, junto ao executivo que é liderado pelo Presidente do MPLA, partido que pretende continuar no poder nos próximos anos.
O MPLA que é detentor do poder político desde a independência de Angola, não terá grandes facilidades para convencer um eleitorado, cansado de tanta incapacidade governativa na satisfação das suas necessidades mais elementares, no combate a pobreza e a corrupção, no desenvolvimento sustentável do país e na consolidação da democracia, que devia passar por uma política de reconciliação nacional, mais empenhada e menos partidarizada pelo maioritário. Mas mesmo assim, será o vencedor das eleições gerais no país, não por mérito próprio, mas por desmérito de uma oposição desarticulada politicamente e sem metodologia processual na campanha eleitoral. A UNITA como principal força política de oposição em Angola, continua a ter uma liderança fragilizada por derrotas anteriores, sem renovação da sua classe dirigente e por uma notória incapacidade de engajar o eleitorado para a tão desejada mudança do poder no país. Os outros partidos políticos, continuarão a ter uma dimensão pequena, encurralados no seu regionalismo ou na sua intelectualidade reconhecida, mas não suficiente para crescer eleitoralmente. Neste quadro, a economia, o investimento e os negócios em Angola têm um ambiente social e político, que merece uma maior atenção dos seus protagonistas, principalmente daqueles que pretendem iniciar um empreendimento, quer nacional quer estrangeiro no mercado angolano. Devem tomar precauções em relação a potenciais parceiros que os aliciam com influências, que poderão cair com um novo Executivo pós-eleitoral, seja qual for a sua proveniência. Aguardar pelo novo xadrez político resultante das Eleições Gerais, é a melhor atitude para quem quer investir as suas poupanças em Angola. Em relação aos angolanos, têm mais uma oportunidade para acreditarem que é possível mudar os atores da cena política do país, apostando em políticos credíveis, em programas eleitorais com soluções práticas e objectivas na resolução dos inúmeros problemas que os cidadãos têm, nesta Angola potencialmente rica, mas que não descola de uma pobreza confrangedora. Carlos Lopes _Creio que a recente aquisição de 21,35% do capital da EDP, mais o direito de preferência sobre os remanescentes 4% em posse do Estado português, pela China Three Gorges, num negócio cifrado em 2,7 mil milhões de Euros, deveria fazer reflectir Angola sobre o perfil do investimento chinês. Notamos que o investimento chinês em Angola é muito vocacionado para o baixo valor acrescentado, nomeadamente, com um interesse muito incisivo no acesso e na exploração dos recursos naturais, com o objectivo primordial de abastecer as necessidades de energia da sua economia, mais concretamente, da sua indústria.
Do ponto de vista da economia angolana é um trade-off pouco vantajoso, fornece matérias-primas em estado bruto, com pouco valor incorporado, sem qualquer tipo de transformação, porque ela ocorre no país importador, depois de transformados são exportados de volta para Angola. O caso mais típico e paradoxal, é a exportação do crude, o maior responsável pelas exportações angolanas, ao mesmo tempo, o crude refinado é uma das maiores componentes das importações angolanas. Notamos que Angola tem pouca capacidade para atrair Investimento Estrangeiro de qualidade, que seria fulcral para a dita diversificação da sua economia, depois começamos a sentir que a dita diversificação não passa de um chavão, apenas, um projecto para ficar no papel. É necessária uma mudança no funcionamento da economia angolana com o intuito de ser mais atractiva ao investimento nacional e estrangeiro. Caso contrário, Angola será sempre, apenas um país com capacidade para atrair investimento com baixos índices de competitividade, logo, os seus níveis de desenvolvimento serão inevitavelmente mais lentos. Obviamente, Angola não possui os recursos, nem o músculo financeiro chinês, mas as opções de investimento chinesas são bastante evidentes, ter posições de domínio em empresas de elevado know-how, como a EDP, um know-how que os chineses carecem neste momento e estão dispostos a comprar, proporcionar financiamento para que a empresa possa continuar a crescer no mercado da América Latina e abrir o mercado asiático. Neste prisma o preço pago pela empresa tendo em conta o seu valor até foi baixo. O ponto de reflexão é este, a China tem excesso de liquidez, falta de know-how e falta de recursos naturais, Angola possui recursos naturais mas não possui know-how, nem liquidez, não faria sentido Angola vender os seus recursos naturais num mix know-how e liquidez? E paulatinamente reduzindo a sua dependência em relação ao exterior? Miguel Amaral |